Ao mesmo tempo em que cresce o número de casos de Covid-19 no Paraná, outro dado também chama a atenção. Neste ano, o Estado já registrou 7.104 casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Destes, 1.799 foram causados por coronavírus e 80 por influenza. Porém, 4.298 casos (ou 60% do total) não tiveram a causa especificada.

Em relação às mortes, das 1.746 decorrentes da síndrome, 1.303 (ou 75% do total) entraram para as estatísticas sem que os exames apontassem a causa da doença.

No mesmo período do ano passado, o Estado havia registrado um total de 2.376 casos de SRAG e 275 óbitos, seis vezes menos que a estatística atual de falecimentos pela doença. Considerando só os casos não especificados, no ano passado havia 1.014 classificados nessa categoria com 168 mortes.

Segundo a coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), Acácia Nasr, uma das razões para o aumento expressivo no número de casos de SRAG é a maior atenção das equipes de saúde para notificar síndromes respiratórias, já que o novo coronavírus é responsável por parte dos casos.

“Nós trabalhamos para testar todos os casos. A orientação do Estado do Paraná é testar inclusive todos os óbitos mesmo os que já tenham exames em andamento ou algum exame anterior negativo para Covid-19”, explicou. Segundo ela, as notificações de síndrome respiratória aguda grave não eram obrigatórias.

A coordenadora descarta que o aumento no número de casos não especificados possa ser consequência da propagação de um novo vírus ou de uma nova doença ainda não identificados pelos exames existentes. Conforme Nasr, a síndrome respiratória pode ser causada por diversos fatores como vírus, bactérias, doenças pulmonares, síndromes neoplásicas e tromboembolismo pulmonar. “Existem outras causas, principalmente, de fungos e bactérias em pessoas imunodeprimidas. Os vírus não são as únicos causadores.”

SUBNOTIFICAÇÃO

Para especialistas, o crescimento exponencial de mortes classificadas como não especificadas em um momento de pandemia abre interpretações para possíveis subnotificações de óbitos pelo coronavírus.

O infectologista Arilson Morimoto afirmou que a investigação de um vírus que causa infecção respiratória é complicada em razão do grande número de possíveis agentes e do alto custo. “A confirmação de qual vírus causa a infecção depende de fatores como o dia em que foi feita a coleta e a maneira como foi realizada. O próprio exame RT-PCR não tem 100% de positividade, fica em torno de 70%. Teoricamente, casos sem diagnóstico se imagina que sejam Covid-19 porque vivemos uma pandemia”, analisou.

A pouca sensibilidade dos testes validados disponíveis também dificulta o diagnóstico preciso. A infectologista Jaqueline Capobiango, do Núcleo de Epidemiologia do HU (Hospital Universitário) de Londrina, informou que o protocolo prevê que no momento do óbito é obrigatório fazer a coleta do material para exame, mas nem sempre o resultado é conclusivo.

“Se o teste apresenta resultado negativo, isso não exclui a chance de o paciente estar infectado, pois ele não é confiável totalmente. Certamente a precisão dos testes irá evoluir com o tempo. Mas não há dúvida que quando se tem um grande número de mortes sem uma causa especificada isso gera um problema enorme em termos de políticas públicas.”

De acordo com a Sesa, nos indicadores de SRAG não especificada em 2020, 97% dos casos foram testados para identificar os causadores. Com o resultado inconclusivo, a classificação final foi realizada seguindo critérios clínicos laboratoriais. As equipes de saúde também realizaram exames com amostras de 99% das pessoas que faleceram com a doença e não tiveram a causa descoberta. Entre os testes está o que poderia identificar a presença do novo coronavírus.