Curitiba - Há um ano, operação desencadeada pelo Núcleo de Repressão aos Crimes contra a Saúde (Nucrisa) chocou o Paraná. Escutas telefônicas, depoimentos e prontuários médicos analisados pela polícia apontavam que a médica Virgínia Helena Soares de Souza era suspeita de antecipar a morte de pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Evangélico de Curitiba. Os casos suspeitos ocorreram entre janeiro de 2006 e 19 de fevereiro de 2013.
Conforme informações do inquérito policial e da denúncia feita pelo Ministério Público do Paraná (MPPR), seguindo orientações de Virgínia, na condição de médica-chefe da UTI, membros da equipe prescreviam medicamentos bloqueadores neuromusculares normalmente empregados em medicina intensiva para otimização de ventilação artificial. Entretanto, estes bloqueadores eram conjugados com sedativos e analgésicos e seguidos pelo rebaixamento de ventilação mecânica, o que provocava a morte por asfixia.
O MPPR denunciou a médica-chefe e outras sete pessoas no dia 11 de março de 2013. Virgínia ficou presa por cerca de um mês até conseguir habeas corpus. Os demais suspeitos também foram soltos. Todos respondem processo em liberdade.
Atualmente, defesa e acusação estão aguardando a perícia técnica que será realizada a pedido do juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Curitiba, Daniel de Surdi Avelar. Quatro peritos (dois de medicina intensiva e dois de anestesiologia) serão designados para analisar documentos, medicamentos e procedimentos adotados em pacientes da UTI.
Segundo o MPPR, as partes já apresentaram seus quesitos - perguntas que foram feitas para os peritos. De acordo com a promotora do caso, Fernanda Nagl Garcez, somente o MPPR ofereceu mais de 400 quesitos sobre os prontuários das sete vítimas que fazem parte deste processo. "Não existe um prazo definido, mas a princípio é uma fase demorada. Já consideramos um avanço porque o processo andou rápido e o Judiciário fez um esforço para conseguir ouvir todas as testemunhas dentro de um semestre. Não temos a pretensão de apressar nada, até porque é um processo complexo, sem precedentes", destaca a promotora.
Após o resultado das perícias, o juiz poderá tirar dúvidas com os peritos. Depois é a fase de interrogatórios dos réus e, em seguida, as partes fazem suas alegações finais.
Na sequência o magistrado poderá decidir se os réus vão ou não a júri popular. A expectativa do MP é de que uma decisão saia ainda este ano. "Se vai a júri é designada uma data, mas isso deve ser demorado porque qualquer que for o resultado terá recurso de uma das partes. O recurso também é julgado pelo TJPR, que também leva um determinado tempo até a sentença se tornar definitiva e ir para júri. Nossa expectativa é que tenhamos uma sentença até o final do ano", afirma Fernanda.

Acusações
A médica Virgínia Helena Soares de Souza é acusada por sete homicídios duplamente qualificados e formação de quadrilha; o médico Anderson de Freitas, por dois homicídios duplamente qualificados e formação de quadrilha; os médicos Edison Anselmo da Silva Junior e Maria Israela Cortez Boccato, cada um por um homicídio duplamente qualificado e formação de quadrilha; as enfermeiras Laís da Rosa Groff e Patrícia Cristina de Gouveia Ribeiro, por um homicídio duplamente qualificado cada e formação de quadrilha; e a fisioterapeuta Carmencita Emília Minozzo e o enfermeiro Claudinei Machado Nunes, por formação de quadrilha.
Foram três mortes no dia 28 de janeiro de 2013, uma em 3 de março de 2012, uma em fevereiro de 2012, uma em 8 de maio de 2011 e outra em 13 de maio de 2011. Segundo o MPPR, em todos os sete casos investigados constatou-se que o medicamento Pavulon foi ministrado mesmo quando não havia justificativa terapêutica.
De acordo com a promotora, existe uma junção de provas documentais (prontuários), testemunhais e de intercepção telefônica que embasaram a denúncia envolvendo sete pacientes feita pelo MPPR.
Conforme ela, pelo menos outros 21 inquéritos policiais estão em fase de conclusão no Nucrisa. "Além destes tem mais cerca de 300 prontuários que foram encaminhados ao Nucrisa e que também vão se tornar inquéritos policiais. Estamos trabalhando neles e, em todos, houve uma avaliação criteriosa de auditores da Secretaria Municipal de Saúde para reconhecimento da inconsistência terapêutica indicativa de possíveis homicídios", diz.

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