Caso de menino cubano em Miami entra em momentos decisivos
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quarta-feira, 29 de março de 2000
Por Alex Veiga
Miami, 30 (AE-AP) - O caso Elián González entrou hoje (30) em seus momentos decisivos, com o pai cubano do menino aparentemente pronto para ir de avião até Miami para resgatá-lo e com a retomada das conversações entre o governo dos Estados Unidos e advogados dos parentes americanos do garoto.
O Serviço de Imigração e Naturalização dos EUA (sigla em inglês, INS) decidiu ontem postergar para até às 11 da manhã (horário de Brasília) de amanhã a revogação da permissão de residência provisória de Elián, o que forçaria a família americana a entregá-lo imediatamente. A revogação seria feita caso a família americana do menino continue se negando a assinar um documento se comprometendo a entregar Elián caso perca a batalha legal para mantê-lo.
Em Washington, a secretária Janet Reno recusou-se a especular que mudança provocaria na estratégia do seu Departamento de Justiça uma possível chegada do pai de Elián, Juan Miguel González.
"Este caso tem sido doloroso para todos os envolvidos", disse Reno. "Mas achamos que a lei é clara, o pai tem de falar pelo menino porque a ligação sagrada entre pai e filho tem de ser reconhecida e Elián deveria ser reunido com seu pai".
Reno afirmou disputas familiares são melhor resolvidas entre as próprias famílias, e não por de autoridades do governo. Ela também comentou declarações feitas na quarta-feira pelo prefeito do condado de Miami-Dade, Alex Penelas, dando conta que autoridades locais iriam responsabilizar o governo federal caso a remoção de Elián provocasse distúrbios na comunidade.
"Algumas autoridades sugeriram ontem que se agirmos, seria uma provocão, uma provocação que traria riscos e contribuiria para a violência. Elas disseram que não seriam responsáveis pelo que ocorresse, que seria eu a responsável", afirmou Reno. Mas, para ela, não haverá violência.
"As pessoas que conheço na comunidade cubana... acreditam no império da lei", disse ela. Reno nasceu em Miami e foi procuradora estadual para a área antes de assumir o cargo atual na administração Clinton.
O INS e a família do garoto de seis anos de Miami permaneciam hoje num impasse sobre a exigência do governo de ela assinar o documento.
Os dois lados se reuniram por quatro horas na noite de ontem, e voltarão a se encontrar novamente hoje para continuar as conversações.
Elián tem vivido em Miami com seu tio-avô Lázaro González desde que foi encontrado em novembro atado a câmara de pneu na costa da Flórida. A mãe do menino e 10 outras pessoas morreram quando o barco em que estavam naufragou enquanto eles tentavam alcançar os Estados Unidos fugindo de Cuba.
Os governos dos dois países querem que o garoto retorne para seu pai em Cuba, um objetivo que tem provocado ameaças de desobediência civil por parte da imensa comunidade cubana de Miami. Os parentes de Miami entraram com uma ação legal para manter Elián e o caso está agora numa Corte de Apelação Federal em Atlanta, com as audiências marcadas para começar na semana de 8 de maio.
O INS irá dizer hoje ao tio-avô do menino como e quando ele terá de entregar a custódia de Elián, a menos que os dois lados cheguem a um acordo sobre o documento, adiantou a porta-voz Maria Cordona. Ele recusou-se a entrar em detalhes.
Lázaro González tem dito que estaria disposto a entregar Elián para seu pai caso Juan Miguel González viesse de Cuba para a Flórida. Ele afirmou que não irá entregar o garoto para o INS.
"O menino vive na minha casa, e eles terão de procurá-lo lá", afirmou Lázaro González.
Na noite de ontem, o líder cubano Fidel Castro anunciou que o pai do garoto estava pronto para viajar "imediatamente" para os Estados Unidos. Ele disse que a viagem dependeria de uma garantia do governo dos EUA de que entregará Elián para o pai ou fará o possível para isto.
Foi a primeira vez que alguém disse que o pai do garoto está disposto a permanecer nos Estados Unidos durante o processo legal.
"Os passaportes estão prontos", afirmou Fidel. "E, naturalmente, o avião está pronto".
Autoridades do Departamento de Estado afirmaram na quarta-feira que não haviam recebido pedido de visto do pai do menino.
Milhares de pessoas promoveram à noite uma vigília de orações em torno da casa de Elián em Little Havana.
Num certo momento, Elián foi trazido para o lado de fora da casa, nos ombros de amigos da família. Enquanto ele sorria e acenava, a multidão aplaudia e gritava "Elián! Elián!".
"A família permanecerá com Elián até o último minuto", garantiu à multidão o porta-voz Armando Gutierrez.
Alguns manifestantes falaram em formar uma corrente humana em torno da casa a fim de evitar que o menino seja retirado pelas autoridades.