Brasília - O governo Jair Bolsonaro anunciou o corte de mais 5.613 bolsas de pós-graduação que seriam ofertadas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) a partir de setembro. O congelamento, que passa a vigorar a partir deste mês, soma-se a outras 6.198 bolsas que haviam sido bloqueadas no primeiro semestre de 2019. Ao todo, isso corresponde a 5,57% do total de vagas ofertadas pelo sistema neste ano.

 Das bolsas de mestrado e doutorado vigentes na UEL, mais de 80% são financiadas pela Capes
Das bolsas de mestrado e doutorado vigentes na UEL, mais de 80% são financiadas pela Capes | Foto: Saulo Ohara/20-8-2018

O bloqueio foi anunciado nesta segunda-feira (2) pelo presidente da instituição, Anderson Ribeiro Correa, e é reflexo da redução do orçamento da instituição. Haviam sido reservados para este ano R$ 4,250 bilhões, dos quais R$ 819 milhões foram bloqueados. Ao anunciar os números, Correa afirmou que o novo bloqueio representa R$ 544 milhões que deixam de ser investidos nas bolsas em quatro anos. Não há informações se as bolsas atingidas agora serão retomadas.

Para 2019, a medida representa R$ 37,8 milhões a menos de investimento em pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. A Capes financia também bolsas para professores de educação básica. A área, contudo, ainda não foi atingida pelos cortes.

A expectativa para o financiamento da Capes são pouco animadoras. A previsão para 2020 é de que o orçamento da coordenação caia para R$ 2,2 bilhões, o equivalente a 51% do orçamento previsto para este ano. O secretário-executivo do Ministério da Educação, Antonio Vogel, afirmou que a equipe está buscando alternativas para que não haja prejuízo na pesquisa do País. Ele, no entanto, não afirmou quais as estratégias que estão em análise. "Estamos vendo várias alternativas. Todas estão na mesa", disse, para mais tarde completar: "Estamos preocupados, conversando com o governo federal, em busca de soluções para isso."

UEL

Das bolsas vigentes na pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) da UEL (Universidade Estadual de Londrina), mais de 80% são financiadas pela Capes, segundo Arthur Mesas, diretor de pesquisa da PROPPG (Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação).

Com o anúncio de corte no orçamento na Capes previsto para 2020, o diretor teme o futuro das pesquisas da instituição. “Nós temos aproximadamente 50 programas de pós-graduação stricto sensu e todos têm bolsistas. Esse corte pode afetar metade ou próximo da metade do que tem de bolsa vigente. O impacto é muito grande, não só para os estudantes, como para o próprio programa, que perde continuidade da pesquisa. É ruim para os indivíduos que recebem a bolsa, para os programas, para a universidade e, em consequência, para a sociedade”, afirmou.

O diretor recordou que as universidades já vêm sofrendo com os cortes de financiamento de pesquisa na CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em que houve suspensão de novas bolsas e risco de não pagamento a bolsistas a partir deste mês.

Sobre a Capes, acrescentou que não se trata apenas de uma instituição de distribuição de bolsas, pois a coordenação também financia coleta de dados e possui um conjunto de atividades de pesquisa que será afetado por esse corte.

Com o novo anúncio, Mesas lamentou que nenhum programa saia ileso. “Nós já tínhamos o anúncio de corte para programas de nota três e quatro, mas cursos bem avaliados também serão afetados. A gente ainda não tem clareza se vai ser um corte direcionado ou geral, nem de como serão aplicados esses cortes, mas esperamos que ainda sobre alguma coisa”, declarou. “Vamos ver como eles decidem o que é importante, já que não estamos sendo escutados e nossas reivindicações não são atendidas.”

O presidente da Capes afirmou que o corte foi realizado para garantir o pagamento das bolsas que estão em vigor. O programa possui 211.784 bolsas ativas em todas as suas áreas de atuação. Deste total, 92.680 pertencem ao âmbito da pós-graduação stricto sensu: mestrado e doutorado. Em nota, a coordenação ressaltou que busca alternativas junto ao MEC para recompor o orçamento de 2020. “Todas as possibilidades estão sendo estudadas para garantir o pleno funcionamento dos serviços prestados”, argumentou. Uma das iniciativas será buscar financiamento por meio de parcerias com empresas na formação de recursos.(Colaborou Lais Taine/Reportagem Local)