O campus da UEL (Universidade Estadual de Londrina) está passando por obras de acessibilidade no calçadão, no CLCH (Centro de Letras e Ciências Humanas) e no CCB (Centro de Ciências Biológicas). As intervenções visam facilitar a circulação da comunidade da instituição, pensando na população PCD (Pessoas com Deficiência).

Sara Rebelato tem dificuldade para acessar a piscina da UEL, onde participa do projeto "Natação para Todos"
Sara Rebelato tem dificuldade para acessar a piscina da UEL, onde participa do projeto "Natação para Todos" | Foto: Gustavo Carneiro

A coordenadora do NAC (Núcleo de Acessibilidade), Ingrid Ausec, destaca a importância das melhorias no calçadão, já que é um ponto de ligação entre vários espaços do campus. Trata-se de uma obra aguardada pela comunidade e por visitantes.

“Nós somos uma universidade antiga, com construções que, na época em que foram feitas, ninguém pensava em acessibilidade. Muitas obras, reformas de acessibilidade, foram feitas à medida que as demandas iam aparecendo”, afirma Ausec. “As obras vão garantir maior autonomia dos estudantes com deficiência, para ir de um espaço a outro dentro da universidade com mais segurança.”

Segundo a coordenadora, 157 estudantes com deficiência passaram pelo NAC no ano letivo de 2022, mas o número de acadêmicos PCD tende a ser maior, já que a autodeclaração de deficiência é opcional.

“A gente vai trabalhar questões mais individualizadas com aqueles que declaram, mas isso não quer dizer que a universidade não pense na acessibilidade e na inclusão dos estudantes que não declararam. Hoje, 100% das obras de reforma ou construção já são pensadas dentro da legislação que exige questões de acessibilidade física, por exemplo”, explica Ausec. Ela cita ainda que são feitas capacitações e formações continuadas com o corpo docente.

O diretor de Obras e Manutenção da Prefeitura do Campus da UEL, Rafael Cezar Fujita, diz que a instituição conseguiu viabilizar as obras nos últimos anos, através de recursos próprios por conta da negociação da folha de pagamento dos servidores para o Banco do Brasil.

“As obras compreendem a adequação de faixa acessível em toda a extensão do calçadão, tanto de leste a oeste quanto de norte a sul, além de algumas rampas e escadas que serão feitas para agilizar e melhorar a questão de acessibilidade”, diz.

O investimento no calçadão será da ordem de R$ 1,2 milhão: a obra no CLCH, que é uma rampa em X, custará R$ 179 mil e a construção de uma passarela no CCB, R$ 294 mil. As duas primeiras obras têm prazo de 90 dias, e a terceira, 180 dias. O total é superior a R$ 1,6 milhão.

“Vai criar uma situação tanto para o cadeirante quanto para a pessoa com deficiência visual, para poder se deslocar com o piso tátil no calçadão, com essa faixa de concreto, além de rampas e escadas que vão facilitar para toda a comunidade”, completa Fujita.

COMUNIDADE

O estudante do curso de Direito José Marcelino da Cruz, 66, que é deficiente visual, lembra que o calçadão tinha alguns problemas, como a falta de um piso tátil.

“Muitas vezes a pessoa tropeça, aquele calçadão está um pouco afundado”, explica, pontuando que um outro trecho de escada, que não tinha corrimão, também era preocupante. “O deficiente tem que ter um corrimão para poder ter mais segurança, por que como é que vai descer ou subir escada se ele não enxerga?", questiona.

Mineiro radicado em Londrina, Cruz entrou na universidade em 2022. Ele perdeu a visão de forma gradativa, após o uso de um medicamento receitado para artrose. Desde que ficou cego, em 2013, voltou a estudar Ceebja (Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos) e conquistou vaga na universidade pública.

“Eu sou o primeiro aluno com deficiência visual que faz esse curso, então até os professores se acostumarem, começar a entender, a gente passa outro ‘perrengue’. A dificuldade é bastante, mas a tendência é superar”, conta o estudante.

De acordo com a UEL, as obras do campus estão sendo bancadas com recursos próprios da instituição
De acordo com a UEL, as obras do campus estão sendo bancadas com recursos próprios da instituição | Foto: Gustavo Carneiro

Questionado sobre a obra no calçadão, ele afirma que “é importante para todos”, justamente porque muitas pessoas circulam pelo espaço. “É essencial, porque onde eu estudo, eu pego o calçadão ‘cá embaixo’ e vou até o NAC. Eu já me acostumei, [mas] eu já tropecei muitas vezes”, conta.

Segundo Cruz, as pessoas com deficiência têm buscado espaço no ensino superior. Inclusive, muitos dos seus colegas do Instituto Roberto Miranda, instituição que atende cegos em Londrina, estão se preparando para tentar passar no vestibular. “Um anima o outro. Se tem um que está se saindo bem, outros também vão se esforçar.”

Ele também destaca que é importante que mais melhorias sejam feitas no campus, como nas calçadas. “Tem lugar que venho pegar o ônibus e que junta poça d'água porque está quebrado o calçamento. Quebrou e não foi arrumado", lamenta.

A estudante Sara Eliza Rebelato, 18, nasceu com mielomeningocele, que é uma malformação congênita na coluna vertebral, e precisa usar cadeira de rodas. Na UEL, participa do projeto “Natação para todos”, que oferece aulas para crianças e adolescentes com diferentes tipos de deficiências. Para ela, a escada que dá acesso ao local onde fica a piscina é um problema. “Eu consigo descer se eu tiver ajuda, mas tinha cadeirante que não conseguia descer. Então, isso tem que melhorar”, opina.

TRABALHO

A coordenadora do NAC avalia que a instituição avançou bastante quando o assunto é acessibilidade. Todos os centros têm elevador, acessos alternativos com rampas, banheiros adequados e plataformas elevatórias. Mas ainda há trabalho pela frente.

“Não dá para dizer que é 100%. A gente ainda tem pontos bastante críticos, principalmente quando envolve ponto de ônibus, calçamentos. Em geral ainda tem obstáculos, raízes de árvores, o próprio desgaste do cimento, que vai levantando, pedras. Tudo isso acaba sendo uma barreira”, avalia Ausec. “É um trabalho contínuo. Às vezes tem desgastes, manutenção que precisa ser feita ou até alguns ajustes”, reconhece.