Campanha na internet alerta para descontinuidade de remédio para câncer

A hashtag “Salvem os Pacientes”, que ganhou as redes sociais, pode até parecer que tem ligação com a pandemia da Covid-19, mas não tem. O termo se espalhou na internet – gerou mais de 270 mil tweets – depois que a atriz e escritora cearense Duda Riedel iniciou uma campanha pelo impedimento da descontinuação do bussulfano. O medicamento é necessário para o transplante de medula óssea e é comercializado nacionalmente por um único laboratório, o francês Pierre Fabre. No fim de novembro, a empresa anunciou o fim das vendas causado pelo fechamento da única fábrica certificada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no País.

Duda Riedel teve seu drama pessoal exposto em reportagem do Jornal Nacional, no sábado (2). Ela teve a chance, em outubro passado, de fazer o tratamento contra a leucemia, mas encampou a luta que preocupa doentes e a comunidade médica. No site Avaaaz.org, em que é possível fazer petições na internet, a escritora busca 200 mil assinaturas para notificar a Anvisa. “Para quem não sabe, o transplante de medula óssea é a única chance de cura para mais de 70 doenças hematológicas, mas, diferentemente de transplante de órgãos sólidos, é necessário um pré-condicionamento antes da realização”, alerta no site. Riedel ainda fez live na noite desta segunda-feira (4) com um médico sobre o tema.

O bussulfano serve para destruir a medula óssea original e permitir que o material seja implantado no doente. Medicamento de importância vital para milhares de pacientes, a possível falta dele tem sido motivo de alerta nas principais associações que lidam com o tema. Segundo a SBTMO (Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea) e a Sobope (Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica), na ausência do medicamento, se tornará inviável realizar qualquer transplante de medula óssea no País, seja este adulto ou pediátrico. “Para se ter uma ideia, em 2019, conforme dados do Registro Brasileiro de Transplantes, foram realizados 3.805 transplantes de medula óssea em adultos (entre alogênicos e autólogos) e 534 pediátricos”, informa a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia).

ANVISA

Em alerta, a SBTMO e da Sobope fizeram um pedido de esclarecimentos à Anvisa, tanto para dar ciência do fato da interrupção de venda quanto solicitar que fossem tomadas providências. Ainda segundo as instituições, foi encaminhada uma nova mensagem por parte da Pierre Fabre, referindo que há a possibilidade de conseguir se manter o fornecimento normal ao longo de 2021. Segundo nota enviada à FOLHA, a Anvisa disse que, por causa da importância do medicamento, estuda ações e medidas que possam favorecer o acesso a produtos similares. Segundo a agência, a quebra do fornecimento, na situação atual, não está vinculada a nenhum pedido pendente junto à Anvisa, mas sim ao encerramento da licença comercial do produto à Pierre Fabre, segundo informado por ela própria.