Uma das 100 armadilhas fotográficas implantadas pelo Projeto Onças do Iguaçu capturou a imagem de uma onça-pintada macho que ainda não havia sido identificada no Parque Nacional do Iguaçu. O registro de novas onças representa qualidade ambiental e de equilíbrio do ecossistema do Parque Nacional do Iguaçu. A onça-pintada é uma espécie chave para a manutenção da biodiversidade. O registro ocorreu no dia 18 de junho.

Imagem ilustrativa da imagem Câmeras captam imagens de onça 'inédita' no Parque do Iguaçu
| Foto: Divulgação/Projeto Onças do Iguaçu

Duas câmeras de monitoramento acabaram destruídas pelo felino. "A imagem é a coisa mais linda do mundo e a gente ficou muito feliz de ter um macho novo, mais forte e bem robusto. Ele realmente estragou duas câmeras. Uma ele arrancou e levou embora e depois a gente achou quebrada. A outra ele mordeu e quebrou. A imagem é linda demais, mas nos deixou um grande prejuízo. Ele é um gato e estranhou de alguma forma aquelas câmeras”, explica Yara Barros, bióloga e coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu.

A nova onça macho foi batizada com o nome Peter, em homenagem ao biólogo paulista Peter Crawshaw Jr.
A nova onça macho foi batizada com o nome Peter, em homenagem ao biólogo paulista Peter Crawshaw Jr. | Foto: Divulgação/Projeto Onças do Iguaçu

A onça-pintada é o maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo. Trata-se de uma espécie emblemática das matas brasileiras. “Aqui no Brasil a gente tem dois grandes felinos. Uma é a onça-pintada e a outra é a onça-parda, que é um pouco menor. De maneira geral, suas populações vêm diminuindo onde entram em confronto com atividades humanas. Já praticamente desapareceu da maior parte das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, mas no Parque Nacional do Iguaçu elas vêm aumentando", aponta.

“A gente monitora aqui desde a década de 1990 e a estimativa é que naquela época tinha de 9 a 11 onças. A estimativa em 2018 era de 28 animais do lado brasileiro. Em 2020 a gente fez esse levantamento e o resultado deve ficar pronto até o começo de julho. Ainda estamos analisando os dados”, afirma.

A nova onça macho foi batizada com o nome Peter, em homenagem ao biólogo paulista Peter Crawshaw Jr.
A nova onça macho foi batizada com o nome Peter, em homenagem ao biólogo paulista Peter Crawshaw Jr. | Foto: Divulgação/Projeto Onças do Iguaçu

A nova onça macho foi batizada com o nome Peter, em homenagem ao biólogo paulista Peter Crawshaw Jr., pioneiro no estudo da onça-pintada no Brasil. O pesquisador morreu de Covid-19 em abril deste ano. “Ele começou os trabalhos com onças no Brasil no Parque Nacional do Iguaçu na década de 1990. Foi um pioneiro, responsável pela primeira foto de onça por “camera trap” (armadilha fotográfica) no Brasil. Ele dedicou a vida à conservação da onça-pintada. Tem uma legião de pessoas que se tornaram admiradores dele e que estão seguindo os passos que ele começou”, ressalta.

Barros reforça que o monitoramento é contínuo por meio dessas armadilhas fotográficas, porque o equipamento registra todos os animais que passam. “A gente faz um grid colocando uma câmera a cada quatro quilômetros, cobrindo uma área bem ampla. De vez em quando os caçadores acabam furtando. No ano passado foram 16 armadilhas que eles levaram. A vida útil dessas câmeras é de cinco anos, e no ano passado, 14 não puderam ser consertadas. Então, basicamente, essas câmeras são material de consumo e são caras. A gente está sempre procurando patrocinadores para as armadilhas fotográficas.”

As presas naturais das onças-pintadas consistem de animais silvestres como catetos, capivaras, queixadas, veados e tatus. Contudo, quando as pessoas caçam essas presas, o número desses animais diminui. “Isso leva essas onças a buscarem alimento fora do ambiente em que vivem, porque quando a caça é muito intensa há uma redução da disponibilidade de presas. A gente também está monitorando a população de presas para entender se está está aumentando ou diminuindo e qual é a densidade dessas presas.”

“O projeto Onças do Iguaçu trabalha com a missão da conservação da onça-pintada como uma espécie chave para a conservação de todo o Parque Nacional. A gente monitora essa população de onças-pintadas em um corredor verde que pega o Brasil e a Argentina. A cada dois anos a gente faz um Censo. Nós, do lado brasileiro, e o Proyecto Yaguareté, do lado argentino, de modo simultâneo. Pega quase 600 mil hectares amostrados. É o maior esforço mundial para censo de onça tanto de área quanto em tempo”, destaca Barros.

Desde que a equipe do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) começou a trabalhar pesado contra a caça, a população de onça foi subindo. Nos dois lados, Brasil e Argentina foram 105 onças no censo de 2018. Ela relata que isso é resultado de estratégias de conservação com as comunidades no entorno. “Fazemos o trabalho de coexistência, em que a gente desenvolve técnicas para as pessoas poderem conviver em um ambiente com grandes felinos. A gente trabalha muito com o medo das pessoas e ensina técnicas domésticas para diminuir esse medo”, destaca. “Elas não ficam à espreita esperando você passar para pular em cima. Tem muita gente aqui nesta região que come carne de caça e muitas vezes elas sentem o cheiro quando alguém faz o descarne dessa caça.”

Dispositivos de GPS são colocados nos animais para acompanhar a movimentação deles. “Colocamos equipamentos que mandam sinais para o satélite e também equipamentos que enviam sinais de VHF. A gente consegue observar a movimentação delas pelo território. As onças são territorialistas e circulam em média 260 km², mas permanecem mais em uma área de 90 km². Certa vez a gente viu uma onça mandando sinal, com vários pontos de um mesmo lugar. A gente podia dizer que provavelmente ela abateu alguma coisa.”