O tumulto registrado na Delegacia de Ibiporã na madrugada desta terça-feira (18) voltou a colocar a histórica superlotação do sistema carcerário paranaense em evidência, um problema que parte da sociedade olha com desdém e ignora a sua complexidade, avalia o presidente do Sindarspen (Sindicato dos Policiais Penais do Paraná) Ricardo Carvalho.

Cadeia de Ibiporã
Cadeia de Ibiporã | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

Conforme noticiou o Governo do Paraná na manhã desta terça-feira, o estado possui 5 mil pessoas sob custódia em carceragens de delegacias. Cento e setenta destes estão na superlotada Delegacia de Ivaiporã, a 165 quilômetros de Londrina. No local, quase 200 presos já dividiram o espaço construído para receber 32 pessoas e que, além de já ter sido palco de rebeliões, registra tentativas de fuga constantemente.

Conforme afirmou à FOLHA o delegado Aldair Oliveira, responsável pela unidade, três tentativas já foram registradas neste ano. “Uma consumada”, lamentou.

Ao lado das delegacias de Cambé e Ibiporã, a Delegacia de Ivaiporã registra uma das situações mais "emblemáticas” do estado do Paraná. Além de ter a distância como fator que dificulta a transferência de presos, a proximidade da rua e a estrutura do prédio acabam facilitando com que outros criminosos consigam arremessar drogas e telefones celulares aos internos.

Questionado se a situação envolvendo seis mortes em Ibiporã acaba tornando o clima ainda mais “tenso” em "sua” carceragem, o delegado avaliou que sim e considerou a situação como uma “bomba relógio”.

Questionado se a abertura de novas vagas poderá amenizar o problema, Carvalho avaliou que “muito pouco”. Enquanto o estado possuía 14 mil presos e quatro mil policiais penais em meados de 2005, hoje são 35 mil presos e três mil servidores desta categoria, afirmou. “O único concurso foi feito para substituir os PSS (Processo Seletivo Simplificado) que saíram. Não houve aumento do efetivo quando pegamos o cenário de oito anos”, diz.

Outro ponto pouco compreendido por boa parte da sociedade é que a ausência do estado na busca pela ressocialização da população carcerária está diretamente ligada ao crescimento do poder das organizações criminosas brasileiras, avalia. Para ele, o poder utilizado para o cometimento de crimes contra civis policiais e relacionados o tráfico de drogas é conquistado dentro das penitenciárias através da concessão de favores, quando a organização criminosa ocupa o espaço deixado pelo Poder Público.

"Coisas básicas, roupa, alimentação. As organizações criminosas concedem até assistência jurídica porque ela tem um interesse que estes presos, quando saiam, cometam crimes. Então a sociedade precisa entender que a persecução penal é importante e a regulamentação necessária e segurança jurídica para os profissionais atuarem", disse.