Brizola e Garotinho medem forças no Rio
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segunda-feira, 07 de fevereiro de 2000
Por Wilson Tosta
Rio, 07 (AE) - Duas reuniões paralelas do PDT, marcadas para sexta-feira (11), pelo governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), e pelo presidente nacional do partido, Leonel Brizola, ameaçam levar a legenda a um racha. Em resposta à convocação, por Brizola, de uma reunião do diretório regional para formalizar a decisão de ter candidato próprio à prefeitura do Rio, Garotinho anunciou que no mesmo dia fará outro encontro, para debater a "democratização do partido". Garotinho disse que quer discutir como enfrentar a estratégia do grupo de Brizola para expulsá-lo.
"Eles (os brizolistas) não têm coragem de dizer isso (que querem excluí-lo do PDT), mas, nos bastidores, estão procurando jogar os militantes contra mim", acusou Garotinho. "Estão muito enganados: não tenho 17 dias no PDT, tenho 17 anos e não vou ficar em silêncio diante de ofensas e mentiras."
A reunião dos 200 membros efetivos do diretório regional (mais 50 suplentes) será na Fundação Alberto Pasqualini, um órgão do partido, enquanto a dos pedetistas pró-Garotinho será na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
O governador afirmou que não vai mais "suportar em silêncio" as "ofensas pessoais" que, segundo afirmou, vem sofrendo de Brizola desde o início do governo. Ele disse que Brizola não sabe fazer política "com P maiúsculo" e reclamou que o líder pedetista já o chamou de Jânio Quadros (ex-presidente, que renunciou ao cargo), de falso profeta e de Mussolini (ditador fascista italiano). "Brizola pensa que tem o direito de ofender todo mundo", reclamou.
O governador também acusou o líder de seu partido de ter postura personalista, centralizadora e de se colocar acima do bem e do mal. "Ele defendeu por conta própria a idéia de prorrogar o mandato do general (João) Figueiredo (último presidente da ditadura); depois, houve o episódio (Fernando) Collor, enquanto todo o PDT defendia a cassação do presidente, ele ficou contra", reclamou Garotinho. "Agora, vem com essa história de fuzilamento (Brizola disse que "passaria fogo" no presidente Fernando Henrique Cardoso); o partido, para tomar uma posição, tem que discutir essas teses."
Resposta - Brizola hoje estava no Uruguai, mas a executiva regional, controlada por ele, respondeu com uma nota dura: "As pessoas que se reunirão no próximo dia 11 são as mesmas que escolheram o senhor Anthony Matheus Garotinho para ser candidato ao governo do Estado." O texto prosseguiu em tom irônico. "Ocorre que participar do governo, ser beneficiário de cargos e posições e depender da nomeação pessoal do governador não são critérios de participação no diretório do PDT", afirmou. "Muitos dos seus integrantes, mesmo pertencendo ao governo, pertencem antes ao partido e ali se reunirão para discutir política, não ações administrativas."
Segundo a nota, a reunião do diretório foi convocada "para sanar as dúvidas do senhor governador, que manifestou ter informações de que faltaria quórum na reunião realizada em 14 de janeiro e que deliberou (...) por uma candidatura própria". "É uma assembléia de dirigentes partidários, não uma repartição pública e, muito menos, um programa de auditório."
A executiva também acusou Garotinho de ter faltado a todas as reuniões do PDT para as quais foi chamado, a exceção de duas, e o desafiou a indicar quem e sob quais alegações propõe a sua expulsão do PDT. "Na verdade, o único afastamento entre o governador e o PDT tem sido aquele que ele próprio promove, ao dirigir agressões e inverdades ao partido que, até hoje, só lhe ensejou prestígio, candidaturas e a vitória na eleição que o conduziu ao cargo que hoje ocupa."