Brasília, 02 (AE) - A briga entre o PFL e o PMDB vai virar uma guerra de dossiês. O núcleo baiano do PFL está fazendo uma devassa na vida pública do presidente do PMDB, senador Jáder Barbalho (PA), especialmente quando foi ministro da Previdência, no final do governo José Sarney. Com esses dados, os aliados do presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), pretendem reagir às investidas do presidente do PMDB que cobrou "coerência" entre o discurso de ACM e o do ministro da Previdência, o pefelista baiano Waldeck Ornellas na discussão do salário mínimo.
Os pefelistas prometem apresentar os dados esta semana, dando início à estratégia para desestabilizar a provável candidatura de Jáder Barbalho à presidência do Senado no ano que vem. Os dados, conta um deputado ligado a ACM, serão utilizados pelo presidente do Senado ou em pronunciamento no plenário ou em carta à Mesa Diretora.
A devassa na gestão de Jáder no Ministério da Previdência servirá de proteção para Ornellas, na quinta-feira, durante a audiência da Comissão que analisa a medida provisória que fixa o mínimo em R$ 151. Os pemedebistas fogem de qualquer comentário e apostam: é o PFL que terá que se explicar ao presidente Fernando Henrique pela crise que tomou conta da base de sustentação política do governo.
Tanto ACM quanto Ornellas tentam negar que estejam reunindo dados contra Barbalho, mas não poupam críticas ao presidente do PMDB. "Jáder não quer discutir o salário mínimo, quer tirar proveito fazendo intriga política, mas se esquece que foi ministro da Previdência e que não deixou marcas positivas", ataca Ornellas. O ministro diz que "lamenta" o fato de o presidente do PMDB não ter se preocupado com a questão do mínimo na época em que foi ministro. "Na época, o presidente Sarney avisou bastante que a nova Constituição faria do Brasil um país ingovernavel, mas ele (Barbalho), que poderia ter se antecipado e proposto mudanças, não moveu uma só palha para corrigir as distorções", acusa.
Desafio - ACM quer provocar Jáder Barbalho a abrir mão de seus sigilos fiscal e bancário. "Fui atacado pelo senador Jáder Barbalho e sobre a reputação de um presidente do Senado não podem pairar dúvidas, por isso vou abrir todas as minhas contas. Se encontrarem algo eu renuncio", diz. Um interlocutor do presidente do Senado, que conhece bem suas estratégias, afirma que com esse desafio o pefelista quer começar a desqualificar a candidatura de Jáder Barbalho à sua sucessão na presidência do Senado.
Afinal, não é o valor do mínimo mas o equilíbrio das forças políticas na aliança que sustenta o governo Fernando Henrique o pivô desta briga que se arrasta há dois meses. Com a aproximação do PSDB e do PMDB, o PFL teme que seja rompido o acordo que prevaleceu na divisão dos poderes de cada partido aliado até hoje e ficar fora do comando de uma das casas do Congresso perdendo espaço para os tucanos.
Enquanto ACM e seus aliados jogam lenha na fogueira, o PSDB, o PMDB e o Palácio do Planalto tentam esfriá-la e não quiseram hoje fazer qualquer comentário. Ajudará nesta estratégia, o fato de o presidente Fernando Henrique embarcar à tarde para uma semana de viagem (Costa Rica e Venezuela).
Coincidência ou não, a direção nacional do PFL também esvaziará a discussão. Esta semana não será feita a rotineira reunião da Executiva Nacional do partido, na quinta-feira, já que o presidente nacional do partido, Jorge Bornhausen, visita os estados da região Sul com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Assim, Bornhausen cumpre o acerto firmado com Fernando Henrique de só voltar a discutir a questão do mínimo daqui a dez dias.