O engenheiro René Bonetti, um paulista de 51 anos, foi sentenciado ontem a seis anos e meio de prisão pela Justiça federal dos Estados Unidos por ter mantido a empregada doméstica da família, a brasileira Hilda Rosa dos Santos, de 65 anos, ilegalmente e em condições de escrava nos Estados Unidos durante quase 14 anos.
Bonetti não fez nenhum pronunciamento antes de ouvir a sentença e deixou a sala 4B do Tribunal Federal de Maryland, em Greenbelt, com as mãos algemadas nas costas.
A juíza Deborah K. Chasanow impôs-lhe também uma multa de US$ 100 mil e ordenou que ele pague um mínimo de US$ 110 mil dólares em salários atrasados a Hilda. Essa quantia poderá chegar a até US$ 388 mil, a indenização que Hilda pediu num processo civil que iniciou contra Bonetti e sua mulher, Margarida, na Justiça do condado de Montgomery, no estado de Maryland, onde a família vivia no final dos anos 70. Esta ação será julgada em março ou abril do ano que vem.
Se não fizer a restituição dos salários que deixou de pagar vendendo bens que possui nos EUA, e que foram congelados pela Justiça, depois de cumprir a pena de prisão Bonetti permanecerá mais três anos sob a jurisdição da corte federal, em liberdade vigiada, para acertar as contas com a ex-empregada. Descontados os seis meses que já passou na cadeia e os cerca de 11 meses de redução da pena que poderá conseguir, por bom comportamento, o engenheiro, que é americano naturalizado, passará os próximos cinco anos numa prisão federal de segurança mínima no oeste do estado de Maryland.
Pelo critério de sentenciamento da Justiça federal, Bonetti, que é réu primário, poderia ter sido condenado a um mínimo de 70 meses e um máximo de 87 meses. Chasanow observou que a sentença de 78 meses que impôs é menor do que o tempo que Hilda, que é negra, foi objeto dos abusos. ‘‘É uma sentença apropriada e espero que ela sirva para dissuadir o réu e outros a cometer esse tipo de ofensa contra as leis dos Estados Unidos.’’
Paul Kemp, o advogado de defesa de Bonetti, considerou a sentença ‘‘demasiadamente severa’’ e informou que seu cliente apelará. Mas a corte de Richmond é uma das mais conservadoras entre os 14 tribunais regionais de recursos da Justiça federal americana, o que torna improvável um novo julgamento.
Hilda não compareceu ontem ao tribunal para ouvir a sentença contra o ex-patrão. Sua advogada, Cathy Hollemberg Serrete, disse que ‘‘ela quer uma solução justa’’. A ex-empregada doméstica dos Bonetti, que sobrevive graças à ajuda de uma congregação de católicos brasileiros em Washington, pediu recentemente um visto de permanência nos EUA por razões humanitárias.
Margarida, que foi indiciada como co-autora dos três crimes de que o casal foi acusado (abrigar um imigrante ilegal, fazê-lo com o objetivo de obter vantagem comercial e colocar a vida de Hilda em perigo negando-lhe cuidados médicos) voltou para São Paulo antes de o marido ser condenado, em fevereiro passado. Ela é considerada foragida pela Justiça americana.