Percepção de falta de respeito dos alunos, salários insuficientes e de uma carreira pouco segura para os jovens. É assim que a maioria da população brasileira enxerga a profissão docente e coloca o País como o que menos prestígio dá aos professores. É o que revela o Índice Global de Status de Professores de 2018, divulgado nesta quarta-feira (7) pela Varkey Foundation, entidade inglesa dedicada à melhoria da educação mundial. O estudo avalia como a população de 35 países enxerga a profissão.

"Falta responsabilidade das famílias para com as atividades educacionais. A escola está isolada", criticou Bruno Garcia
"Falta responsabilidade das famílias para com as atividades educacionais. A escola está isolada", criticou Bruno Garcia | Foto: Ricardo Chicarelli



A pesquisa indica que, enquanto há uma tendência global de crescimento no prestígio dado aos professores, o Brasil regrediu nos últimos cinco anos. Em 2013, quando o estudo foi feito pela primeira vez e avaliou 21 nações, o País aparecia na penúltima colocação. Na edição deste ano, com a piora na percepção sobre o respeito dos alunos e com menos pais dispostos a incentivar seus filhos a seguirem a profissão, o índice brasileiro piorou e o colocou como o último do ranking.

Para Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná), o indicativo da pesquisa é um triste retrato da atual situação da educação no País. Para o professor e pedagogo, uma série de fatores influenciam a forma a qual a sociedade vê a educação. "A falta de reajuste salarial, somada a toda violência que foi aplicada contra os professores em todo o Brasil nos últimos anos, ajuda a criar um ambiente de completa desvalorização da profissão. Esta pesquisa mostra a nossa realidade", alertou o sindicalista, que ainda apontou a importância do tema. "A educação é um eixo essencial do desenvolvimento da sociedade", pontuou.

Na avaliação de quem atua nas salas de de aula, o atual modelo com quadro e giz precisa ser revisto. A ampla oferta de informações através da internet e o acesso à tecnologia deviam ser amplamente utilizados no ensino, segundo o professor de Filosofia da rede estadual Bruno Garcia. "São muitos os problemas, mas os gestores de educação do País precisam repensar o modelo. Inclusive na própria formação dos cursos de licenciatura. Os professores formados hoje não estão prontos para educar os alunos para o século 21", opinou Garcia, membro do Fórum Municipal de Educação, em Londrina. Para ele, as família também têm importante papel no processo da valorização dos professores. "Falta responsabilidade das famílias para com as atividades educacionais. A escola está isolada", criticou.

METODOLOGIA
Para chegar ao indicador, foram entrevistadas mil pessoas, de 16 a 64 anos, em cada país e mais de 5.500 docentes. No Brasil, apenas 9% acredita que os alunos respeitam seus professores - na China, o primeiro colocado do ranking, 81% consideram que há respeito por parte dos estudantes. O dado aparece em consonância com o fato de apenas 20% dos pais brasileiros dizer que encorajariam seus filhos a seguir a carreira - ante 55% dos pais chineses.

O estudo também indica que a população brasileira subestima a jornada de trabalho da profissão, com a sociedade estimando uma carga horária semanal média de 39 horas, ante o relato dos professores de uma média de 48 horas. Segundo a pesquisa, essa percepção é forte nos países latino-americanos e se diferencia de países como Finlândia, Canadá e Japão, onde os docentes trabalham menos horas do que a percepção de suas comunidades.

A mesma tendência é observada em relação aos salários. Enquanto os brasileiros consideram que um salário justo para os professores seria de cerca de U$ 25 mil ao ano, a remuneração real média relatada pelos profissionais é de U$ 15 mil. A Secretaria de Educação do Paraná foi procurada para comentar a pesquisa, mas não respondeu ao pedido da FOLHA.(Com Agência Estado)