São Paulo - O Brasil é o 22º dos 193 estados-membros da ONU (Organização das Nações Unidas) com o mais alto índice de criminalidade organizada. Na América do Sul, fica atrás apenas de Colômbia, Venezuela e Paraguai. Além disso, o país ocupa as primeiras posições no ranking quando o alvo dos crimes é o meio ambiente.

O Brasil é o segundo colocado global no que diz respeito ao tráfico de cocaína - empatado com México, Peru e Venezuela, e atrás apenas da Colômbia
O Brasil é o segundo colocado global no que diz respeito ao tráfico de cocaína - empatado com México, Peru e Venezuela, e atrás apenas da Colômbia | Foto: Mauro Pimentel/AFP

Os dados constam no Índice Global do Crime Organizado, primeiro levantamento dessa natureza e recém-lançado pela Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC, da sigla em inglês), entidade não governamental sediada em Genebra, na Suíça. Ele deve ser atualizado a cada dois anos.

A pesquisa analisa variáveis que incluem o alcance, a escala e o impacto do crime organizado em cada um dos 193 países, bem como a eficácia das políticas estatais de combate às organizações criminosas. A partir dessa análise, que inclui levantamento bibliográfico e exame de dados, os pesquisadores atribuem uma nota de 0 a 10 em vários quesitos. No cômputo geral, o Brasil ficou com um índice de 6,5 - a República Democrática do Congo, que lidera o ranking, tem 7,75.

O índice conclui que três quartos da população mundial mora em países com altos índices de criminalidade e pequena capacidade de combater as organizações criminosas. Além disso, a Ásia aparece como continente com maior incidência de crime organizado, o que, segundo os pesquisadores, não chega a surpreender, uma vez que é o mais populoso, abriga algumas das maiores potências econômicas do mundo e é rico em recursos naturais.

Segundo o índice, o tráfico de pessoas é o mercado mais explorado por organizações criminosas em todo o mundo. Para Laura Adal, analista sênior GI-TOC, a pandemia de Covid-19 pode ter potencializado essa prática, que envolve o aliciamento, transporte e recebimento de pessoas por meio de falsas promessas, ameaça ou outras formas de coação - voltada, normalmente, à exploração sexual e ao trabalho forçado.

"Com lockdowns e restrições de viagens, grupos vulneráveis apenas se tornam mais isolados, social e economicamente e, portanto, se tornam mais suscetíveis à exploração e ao tráfico", afirma Adal à reportagem. "E manter as vítimas isoladas, física ou emocionalmente, é uma estratégia-chave que os captores usam para controlar a vítima."

A pesquisa analisou também a relação entre as formas de governo e a criminalidade, e descobriu que as democracias têm maior capacidade de resistir às organizações criminosas do que os Estados autoritários. Além disso, países em conflito e com Estados frágeis experimentam maior vulnerabilidade ao crime organizado.

O índice divide os mercados em que os grupos criminosos atuam em dez: tráfico e contrabando de pessoas; crimes contra a fauna, a flora e os recursos não renováveis; e tráfico de armas, heroína, cocaína, cannabis e drogas sintéticas.

O Brasil ocupa o primeiro lugar mundial na categoria de crimes contra a flora - empatado com China, República Democrática do Congo, Gabão, Guiné e Guiné Equatorial - e é o segundo do mundo entre os crimes contra a fauna - empatado com o Vietnã e atrás apenas da China. Nos crimes contra os recursos não renováveis, o Brasil ocupa a 14ª colocação.

O Brasil é ainda o segundo colocado global no que diz respeito ao tráfico de cocaína - empatado com México, Peru e Venezuela, e atrás apenas da Colômbia.

Segundo Laura Adal, o 22º lugar mundial do Brasil se deve ao fato de o país ter uma pontuação igual ou superior a 8 (em uma escala de 0 a 10) em seis dos dez mercados criminosos analisados pelo índice. "Devido à forma como o índice é estruturado, os países que têm mercados ou atores criminosos mais diversos terão pontuações mais altas do que os países que têm apenas um ou dois fatores extremamente infiltrados", diz à reportagem.

O índice também avalia a resiliência dos países, que é definida pelos pesquisadores como a capacidade que os Estados têm de resistir e interromper as atividades do crime organizado como um todo - em vez de atacar apenas mercados individuais - por meio de medidas políticas, econômicas, jurídicas e sociais. Nesse ranking, o Brasil aparece como o 87º mais resiliente.