Brasil deve crescer 3,1% neste ano, prevê Economist
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 10 de janeiro de 2000
por João Caminoto
Londres, 10 (AE) - A economia brasileira vai crescer 3 1% neste ano, segundo estimativa da Economist Intelligence Unit (EIU), empresa de análises econômicas ligada à revista Economist
com sede em Londres. Em seu relatório World Outlook, no qual faz previsões para a economia mundial para os próximos doze meses, a EIU diz que a cotação do real em relação ao dólar no final deste ano será de 1,97. Além disso, a inflação no ano 2000 atingirá a marca de 7,9% e o déficit na balança de conta corrente será de US$ 22 bilhões. O equilíbrio na balança comercial será o fator mais positivo da economia brasileira neste ano. Segundo a EIU, a economia mundial registrará um crescimento de 2,8%, superior aos 2,5% registrados em 1999. "O aumento será possível pois a maioria dos países desenvolvidos deverá ter uma boa performance enquanto os mercados emergentes terão um ano mais positivo do que 99". A EIU prevê que a aconomia brasileira apresente um a forte recuperação já no início deste ano. "Essa estimativa de crescimento de 3,1% é moderada e pode até ser superada", disse à Agência Estado a analista Adrienne Pratt, da EIU. "Nos primeiros meses do ano prevê-se um forte fluxo de investimentos para os países emergentes, entre eles o Brasil. Isso logicamente ajuda.
Mas é preciso sempre manter a cautela com a volatilidade do mercado e a possibilidade de problemas na economia norte-americana, que teria efeitos prejudiciais sobre os países emergentes. Além disso, a demora na aprovação das reformas estruturais é outro fator que gera preocupação permanente em relação ao Brasil", afirmou Adrienne Pratt.
Reformas - A Economist Intelligence Unit (EIU) prevê que a agenda das reformas no Brasil será muito prejudicada pelas eleições municipais. "Até que sejam adotadas reformas que alterem a natureza estrutural do deficit fiscal, o governo terá que se ancorar em aumentos tributários de curto prazo e cortes nos seus gastos para cumprir com as metas estabelecidas com o FMI", diz o relatório.
A EIU alerta também que, com a recuperação econômica, é possível que empresários e comerciantes tentem aumentar os preços. Isso poderia colocar o Banco Central diante do dilema de aumentar ou não as taxas de juros para conter a inflação. A EIU acredita que o FMI pode vir a aceitar uma taxa inflacionária ligeiramente superior à meta neste ano para não ameaçar a recuperação econômica do país. Em relação à taxa de câmbio, a EIU prevê que o Real poderá se recuperar diante do dólar no primeiro semestre des te ano. Um eventual desaquecimento da economia norte-americana deverá causar o aumento no fluxo de investimentos para os países emergentes.
Além disso, a continuidade do processo de privatizações continuará atraindo capital externo. Entretanto, a EIU não afasta a possbilidade da instabilidade política causar turbulências no mercado de câmbio.
Conta externa - O aspecto mais positivo da economia brasileira neste ano, de acordo com a Economist Intelligence Unit (EIU), será a melhora da balança externa. As exportações totalizarão US$ 53,4 bilhões e as importações atingirão a marca de US$ 53,1 bilhões. "Embora o declínio nas importações de produtos e serviços venha a ser compensando pelo aumento da demanda, o cenário comercial internacional deverá ser mais benéfico", diz o relatório, que alerta também que a "a necessidade de financiamento externo vai diminuir, mas permanecerá grande em termos absolutos, deixando o país dependente dos sentimentos do mercado internacional."
A EIU prevê que a economia da América Latina deverá crescer 3,4% neste ano, uma resultado bem melhor do que o crescimento zero registrado em 1999. A performance não é ainda mais positiva por causa da Argentina, que deverá ter um crescimento econômico de apenas 2% . Apesar de prever um ano positivo para a economia mundial, a EIU não descarta eventuais riscos, entre eles a lenta recuperação da economia japonesa, a possibilidade de crises em países emergentes e as possíveis consequências de uma eventual desvalorização cambial na China.
"Mas o principal risco para a economia mundial, entretanto, é o desaquecimento da economia norte-americana. Há muitos problemas latentes na economia dos Estados Unidos", afirma a EIU, que acredita que eles serão resolvidos lentamente. "Acreditamos que a economia norte-americana vai continuar crescendo num ritmo razoável mas, historicamente, os problemas alí existentes geralmente foram corrigidos rapidamente, com sérias consequências no setor produtivo e nas taxas de emprego."
Segundo o ranking da EIU, Moçambique registrará o maior crescimento econômico neste ano, com uma expansão de 10%, A Jamaica, por sua vez, ter á o pior desempenho, com uma retração em seu PIB de 1%. "O mundo no ano 2000 atingirá uma riqueza inédita - embora essa notícia será de pouca utilidade para as 1 3 bilhões de pessoas que sobrevivem com um dólar ou menos por dia", afirma o relatório da Economist Intelligence Unit.