São Paulo - O Brasil superou as 100 mil mortes por Covid no distante 8 de agosto de 2020. Cinco meses depois, nos primeiros dias de janeiro, a cifra tinha dobrado. Mais 75 dias e o número já era 300 mil. O próximo marco, 400 mil, veio em fins de abril, apenas 36 dias depois. Em meados de junho, o país contava meio milhão de vidas perdidas para o coronavírus. O ritmo da tragédia se desacelerou desde então, e quase quatro meses se passaram até o Brasil alcançar 600 mil mortes por Covid nesta sexta-feira (8). O avanço da vacinação em todo o país pode ser tido como o principal fator a explicar essa redução de velocidade.

Imagem ilustrativa da imagem Brasil atinge 600 mil mortos por Covid com pandemia em desaceleração
| Foto: Michael Dantas/AFP

Mais de 92% da população adulta brasileira já recebeu ao menos uma dose do imunizante contra a Covid, e mais de 60% têm o esquema vacinal completo, com duas doses ou dose única. Enquanto aumenta a vacinação, cai a média móvel de mortes diárias, segundo o consórcio de veículos de imprensa.

Em abril, a média chegou a ficar por sete dias acima de 3.000 óbitos diários por Covid. Ao longo de 2021, foram 61 dias (55 deles seguidos) com médias acima de 2.000 mortes. Desde o início da pandemia, foram 247 dias com média de ao menos 1.000 vidas perdidas por dia. Agora, a média móvel é de 438, a menor desde 13 de novembro.

Se há alguns meses o Brasil causava preocupação global pelo descontrole da pandemia, chegando a registrar mais de 4.000 óbitos em 24 horas, agora parece ter se saído melhor do que diversos outros países no enfrentamento da variante delta.

Durante a pandemia, o governo Jair Bolsonaro teve quatro ministros da Saúde. Os dois primeiros, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, deixaram o cargo por divergências com o presidente. O terceiro, o general do Exército Eduardo Pazuello, ficou quase um ano no posto e como um dos investigados na CPI da Covid-19.

O quarto ministro, Marcelo Queiroga, assumiu com um discurso mais conectado ao consenso científico, mas mudou de atitude recentemente e passou a fazer acenos ao bolsonarismo para permanecer na Esplanada. "É difícil falar que estamos melhor quando batemos 600 mil óbitos. É impossível não relembrar todos os equívocos, erros, negligências que aconteceram nesse período de quase dois anos", diz Raquel Stucchi, professora da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). De toda forma, diz a especialista, "hoje nossa realidade, sem dúvida nenhuma, é melhor".


A situação de maior tranquilidade lembra o segundo semestre de 2020, quando também houve forte redução de casos e mortes. A diferença, diz Stucchi, é a vacinação avançada. Estudos têm demonstrado que a efetividade das vacinas cai após seis meses, especialmente contra infecções. Por esse motivo, diversos países discutem a aplicação de uma dose de reforço.