Laboratórios públicos e privados estão investindo na produção de testes diagnósticos para detectar o novo coronavírus. Embora ainda não haja tratamento específico, a identificação pode ajudar a conhecer melhor o caminho da epidemia e a contê-la.

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. | Foto: Divulgação/Josué Damasceno

A Fiocruz, por meio de Bio-Manguinhos, sua unidade responsável por vacinas, biofármacos e kits diagnósticos, planeja abastecer todo o setor público do país de testes diagnósticos. Nas últimas duas semanas foram produzidos perto de 20 mil kits, segundo Antonio Ferreira, gerente do programa de diagnóstico do instituto.

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Até domingo (15), o número de testes realizados em todo o país, incluindo casos suspeitos, confirmados e descartados, era de 3.599, segundo o Ministério da Saúde.

Estima-se que agora o país já esteja na fase exponencial da epidemia, quando os casos se multiplicam progressivamente. Segundo algumas projeções, em algumas semanas o total de infectados pode ser de dezenas de milhares de pessoas.

Mesmo que o número de casos exploda, a produção de Bio-Manguinhos vai acompanhar o ritmo, de acordo com Ferreira. As medidas incluem aumentar o número de pessoas por plantão para ampliar a capacidade de produção.

A meta é que os testes sejam distribuídos não só para os laboratórios de referência (como o da própria Fiocruz, o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas, no Pará) mas para laboratórios públicos de todos os estados da federação. Os esforços incluem ainda promover treinamento para fazer o ajuste fino na realização do protocolo.

O valor a ser pago pelo governo por teste, diz Ferreira, é de entre R$ 75 e R$ 100, mas é possível que o custo seja um pouco maior do que isso.

Além do teste convencional, baseado no chamado protocolo de Berlim, a Bio-Manguinhos também desenvolve um outro, baseado num protocolo dos CDC (Centros de Controle de Doenças dos EUA), especificamente para casos que pairam numa zona cinzenta entre o sim e o não na primeira análise.

A perspectiva é que, com o padronização nos serviços públicos, a chamada contraprova (repetição) do testes torne-se desnecessária.

O Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, que identificou o primeiro caso de coronavírus no país, validou sua metodologia ao ter os primeiros casos confirmados pelo Instituto Adolfo Lutz.

O Einstein também está aumentando sua capacidade de produção. Já podem ser feitos 3.600 casos diariamente em sua unidade de diagnóstico, conta o virologista João Renato Rebello Pinho.

A próxima meta é automatizar o processo. "Já dava para prever que só os laboratórios públicos não iam ter capacidade de receber todas as amostras nos próximos meses", diz ele.

A preocupação, diz Pinho, é com a disponibilidade de insumos para que os testes possam ser realizados. "Poderia haver uma facilitação na importação, como aconteceu no caso da zika", diz. Atualmente, o hospital está fazendo mais de 700 exames diariamente e já acumula dezenas de resultados positivos.

A rede Dasa relata que até 12 de março processou 1.616 amostras, sendo 46 testes positivos. O laboratório Fleury, que também realiza o exame, não divulga números.

Os testes de ambos os laboratórios são oferecidos apenas com exame médico em hospitais parceiros e custam entre R$ 150 e R$ 160.

Além disso, a rede Dasa também disponibiliza a coleta domiciliar, a R$ 260. "Quando um paciente se desloca a um laboratório, há um risco aumentado de transmissão, pois entra em contato com outros pacientes e com profissionais de saúde", explica o laboratório em nota.

O paciente também recebe um kit de máscaras e álcool em gel para para serem utilizados até que saia o resultado do exame, o que acontece em entre 24 e 48 horas.

Outros laboratórios, como a Afip Medicina Diagnóstica, também implementaram seu teste para detecção do Sars-CoV-2. De terça até hoje foram 61 exames realizados e nenhum positivo.

As coletas são feitas apenas com pedido médico e indica-se que sejam avaliados apenas os casos suspeitos, explica Débora Ramadan, diretora técnica do laboratório.

A expectativa é, no futuro, também oferecer o teste a hospitais do setor público. Ali o exame particular sai por R$ 250.

Os exames são baseados em uma técnica conhecida como RT-PCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real), que amplifica uma determinada sequência genética (no caso, aquelas do próprio vírus) a partir de uma espécie de isca molecular.

Essa isca (ou sonda) se gruda ao material genético do vírus, permitindo, na presença de um coquetel de reagentes e em temperaturas controladas, que novas cópias dessa sequência sejam produzidas. Se essa amplificação acontece, o resultado é considerado positivo.

É importante que a sonda seja específica o suficiente para não amplificar o material de outros coronavírus aparentados, como o vírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), que circula desde 2012, ou o da síndrome respiratória aguda grave (Sars), que circulou entre 2002 e 2004.

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