“Atenção! A aglomeração de pessoas está contraindicada. Solicitamos que todos voltem às suas casas. Ficar em casa é a melhor alternativa para evitar que a crise chegue no estágio que chegou em outros países.” Se você ouvir essa mensagem sendo divulgada pelas viaturas da Polícia Militar ou pelos Bombeiros Militares, não é um toque de recolher, como alguns estão dizendo pelas redes sociais. São mensagens de orientação para esse período de quarentena contra o coronavírus (Covid-19) . O trabalho iniciou-se nesta sexta-feira (20/03), em todo o estado.

O trabalho iniciou-se nesta sexta-feira (20/03), em todo o estado.
O trabalho iniciou-se nesta sexta-feira (20/03), em todo o estado. | Foto: Divulgação/Políicia Militar

A mensagem divulgada pelos alto-falantes ressalta à população para trocar a preocupação pela prevenção. A ação tem sido realizada em todo o Estado e visa dispersar aglomerações que possam contribuir para a disseminação da doença. A auxiliar serviços gerais, Gislaine Cristina Massaro, flagrou uma viatura da PM repassando a mensagem no Calçadão de Londrina, na tarde deste sábado (21), que por sinal apresentou pouco movimento. Outra viatura circulou no sábado à tarde pela avenida Higienópolis transmitindo a mesma mensagem. Mesmo assim algumas pessoas resistiram e continuaram circulando pelas ruas.

Segundo a PM a orientação de transmitir o áudio veio do Comando Geral da Polícia Militar para ser divulgada em todo o Estado “Por enquanto é apenas orientação. Não chegamos ao extremo de exigir para que as pessoas se recolham”, disse um dos policiais abordados pela reportagem. A medida é preventiva e se baseia na determinação governamental para que a população entenda os riscos de contágio e acate as recomendações de saúde, optando pelo isolamento social até que a situação seja contornada. “Estamos trabalhando para que o Paraná não seja acometido em larga escala pelo Coronavírus”, disse o Subcomandante-Geral da PM, coronel Antônio Carlos de Morais.

A atuação da Corporação será no sentido de monitoramento e fiscalização dos estabelecimentos comerciais que descumprirem o decreto governamental que prevê a suspensão de atividades de shoppings, galerias e estabelecimentos congêneres. As equipes policiais que constatarem o funcionamento desses locais, citados no decreto, farão a abordagem orientando os responsáveis a encerrarem as atividades imediatamente para evitar a aglomeração de pessoas e, consequentemente, reduzir os riscos de disseminação do vírus.

“Nos casos em que houver resistência, a equipe policial encaminhará o responsável para lavratura de Termo Circunstanciado e o estabelecimento será fechado. Todas as ações serão registradas com a elaboração do Boletim de Ocorrência", completou o coronel Morais.

"NÃO FOI PEDIDO DE EVACUAÇÃO"

Em Londrina as viaturas circularam na noite de sexta-feira (20) na Gleba Fazenda Palhano Track (zona oeste). Um dos funcionários de um restaurante que fica no local confirmou que não foi um pedido de evacuação, mas de orientação. “Passaram na frente e foram embora. Não foi pedido para os clientes evacuarem a área e ninguém saiu do restaurante. O restaurante continuou fluindo, seguindo os protocolos de segurança alimentar e obedecendo a distância entre as mesas”, destacou. Segundo ele, o restaurante obedecerá o decreto e fechará para o atendimento nas mesas a partir de segunda-feira (22). “Todos os funcionários vão continuar ativos na empresa. Como não haverá atendimento nas mesas, os garçons vão se revezar na escala dos horários durante a semana, mas continuarão trabalhando normalmente. Ninguém será dispensado. A gente vai levar até onde conseguir”, destacou.

ABORDAGEM DE MOTORISTAS POR APLICATIVO

Os motoristas por aplicativo também foram abordados pela PM e pela Guarda Municipal durante a noite e madrugada deste fim de semana. Falaram para que os motoristas não circulassem desnecessariamente pela cidade, sem passageiros, segundo o relato do motorista Odair Calixto,48. “Os guardas municipais falaram ‘Antes suas contas atrasarem do que você perder a sua vida e não ter condições de pagar as suas dívidas’. Hoje, em Londrina, existem 4 mil motoristas por aplicativo e acredito que 80% deles estejam parados.” Segundo ele, alguns que estavam com veículos alugados ou financiados tiveram que devolver o carro. “Dentro do contexto da saúde a gente entende essa quarentena, mas a gente não tem amparo da plataforma de aplicativos para se manter. O Governo Federal anunciou uma ajuda de R$ 200, que não dá nem para comprar verduras. Para o motorista de aplicativo é difícil. Ou seja, não temos o respaldo de ninguém”. Segundo ele, Londrina está uma cidade extremamente vazia. “O fluxo de passageiros está muito pequeno. Um motorista normalmente consegue R$ 1500 por semana, mas esta semana não recebeu R$ 700 no mesmo período. Ele paga em torno de R$ 400 por semana pelo aluguel do carro. Mas se ele somar com os gastos de combustível não tem condições de se manter.

Calixto observou que na noite de sexta-feira para sábado, os principais pontos de Londrina estavam vazios. “Normalmente eu faço 15 corridas por dia. Ontem fiz oito,das quais duas foram para a UPA do Sabará, mas os motoristas de Uber projetam que 60% das corridas são para atendimento hospitalar ou postos de saúde.

O motorista de caminhão e de transporte por aplicativo, Mário Sérgio Silvério, 44, relata que sua esposa ouviu o caminhão de bombeiros transmitindo a mensagem de orientação e se assustou. “O caminhão dos bombeiros circulou pela avenida Raminelli, no Jardim Ana Rosa,em Cambé (Região Metropolitana de Londrina). Eu tenho cinco filhos e uma filha está grávida. Como a minha esposa também é Uber e temos dois carros, pedi para que ela usasse um veículo para o transporte de passageiros e outro para o transporte da família.” Ele relatou que veio recentemente do Rio de Janeiro e observou que não houve barreiras nas estradas para orientar os caminhoneiros no trajeto, a não ser no Paraná. “Eu vi que só na divisa de São Paulo com o Paraná, em Sertaneja, havia policiais parando carros e orientando sobre o coronavírus”, observou. Segundo ele, o movimento na rodovia caiu de 60% a 70%. “Os motoristas de caminhão continuam circulando. Vi que os postos de combustível continuam com bastante caminhoneiros. Eu mesmo dormi na bomba de combustível, porque estava tudo cheio. Como eles me conheciam, deixaram que eu ficasse na bomba”, destacou.