Brasília, 16 (AE) - O deputado Jair Bolsonaro (PPB-RJ) , assumido representante ideológico da direita militar, voltou hoje a protagonizar uma cena digna dos momentos mais duros da ditadura. Ao ir até o Centro Médico da Câmara para saber do estado de saúde do ex-padre José Antônio Monteiro, que fora medicado e estava sob observação após chegar a Brasília com pressão alta, de 20 por 11, Bolsonaro disse: "Isso é que dá torturar e não matar."
"Se a ditadura tivesse matado muita gente no passado, teria melhorado", argumentou Bolsonaro, afirmando que entre essas pessoas deveriam ser incluídos o ex-padre e o presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele acrescentou que tem imunidade para falar essas coisas e é "demagogia" a imprensa dar cobertura ao caso do ex- padre. "Se mais gente tivesse ido para o saco ou para a vala, seria melhor."
Não é a primeira vez que o deputado faz declarações polêmicas. Capitão da reserva do Exército, é conhecido pelas posições radicais, como a adoção da pena de morte. Em maio, num programa de TV, ele defendeu o fechamento do Congresso e afirmou: "No período da ditadura, deviam ter fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique, que era das esquerdas, o que seria um grande ganho para a Nação."
No programa, ele também criticou o secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori. "É absurdo o secretário ter ido a São Paulo visitar os sequestradores do empresário Abílio Diniz; com isso, ele demonstra ter mais estrume na cabeça do que o ex-ministro Sérgio Motta tinha na barriga", disse.
No dia seguinte, ele disse que só repetiu o que costuma dizer na Câmara, onde os colegas "já estão acostumados" com suas opiniões. Em 1993, ele já havia defendido a adoção de um regime de exceção. "Os graves problemas nacionais jamais serão resolvidos em uma democracia irresponsável."
Bolsonaro também se destacou por declarações truculentas em outras áreas. Em abril de 1998, defendeu a pena de morte para os cinco chilenos, dois argentinos e dois canadenses condenados pelo sequestro de Abílio Diniz. Antes da execução da pena, porém
os "sequestradores devem ser torturados para revelar os nomes de todos os seus cúmplices". Para ele, o governo estaria tratando criminosos com benevolência. "Esses vagabundos deveriam estar todos mortos, mas antes devem ser torturados para contar quem são os integrantes de suas quadrilhas."
No fim de 1997, Bolsonaro comentou o massacre do Carandiru
cinco anos antes em São Paulo, no qual 111 presos foram mortos. Ele afirmou que a Polícia Militar deveria ter aproveitado para matar outros 889 presos. "Acho que a PM perdeu uma grande oportunidade de matar mil bandidos; já que houve (o massacre), que matassem mil", disse. "Perderam essa oportunidade de fazer uma limpa na vagabundagem deste País e, com certeza, muitos iam pensar mais vezes antes de virar bandidos."