BNDES deve liberar este ano financiamento para empresa brasileira na Argentina
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quinta-feira, 20 de abril de 2000
Por Irany Tereza e Maria Fernanda Delmas
Rio, 21 (AE) - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) espera liberar, ainda este ano, o primeiro financiamento para empresas brasileiras instaladas na Argentina. Segundo o presidente do BNDES-Exim, departamento do banco responsável pela área de comércio exterior, Renato Sucupira, os empréstimos serão diretamente proporcionais ao benefício que estas empresas trouxerem ao Brasil. Mas a grande polêmica das negociações é que o banco se recusa a financiar capital de giro, uma das principais reivindicações dos empresários brasileiros com representação no exterior.
"Nossa intenção é incentivar a geração de exportações, direta ou indiretamente, mas o banco não vai financiar capital de giro", afirma Sucupira. "Não pode haver restrição a capital de giro, porque as empresas precisam disso para mais tarde exportar", rebate Eloi Rodrigues de Almeida, da empresa Pluma, de transporte de cargas e passageiros, e presidente do Grupo Brasil, entidade formada pelas 190 empresas brasileiras com filiais na Argentina.
Na última quarta-feira, empresários e técnicos do BNDES reuniram-se no banco para discutir a questão. Nos próximos dias 9 e 10 de maio, uma missão do banco, coordenada por Sucupira, irá a Buenos Aires para reuniões com autoridades argentinas discutir questões tributárias.Segundo Almeida, de 1995 a 98, as empresas brasileiras investiram, com recursos próprios, cerca de R$ 6 bilhões no mercado argentino, impulsionadas pelo acordo do Mercosul.
Em 90 dias será concluído o estudo com as implicações tributárias e definidos os primeiros projetos a receberem o incentivo do governo. Segundo Sucupira, o mercado argentino faz parte de piloto do programa, que deverá se estender a outros países com a intenção de permitir a criação de multinacionais brasileiras. "Estamos começando pela Argentina porque lá temos maior intercâmbio comercial, o maior número de empresas instaladas e uma entidade empresarial já organizada", explicou.
Segundo Eloi Almeida, 60% das filiais argentinas de empresas brasileiras são do setor industrial, principalmente dos ramos de aço laminado, petroquímica e laticínios. "Temos, neste mercado, a concorrência desleal de empresas chilenas, que contam com recursos de financiamento de fundos de pensão de seu país, o que no nosso caso não é permitido pela legislação", comentou. "O presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmou, em sua vinda a Buenos Aires, que quer empresas brasileiras multinacionais, só que apenas com recursos próprios nós não conseguiremos."
Na avaliação que será feita pelo BNDES, um dos quesitos que mais pesarão para a liberação do financiamento será a capacidade de a filial estrangeira de uma empresa nacional criar mecanismos de facilitação de exportação de produtos brasileiros. O banco também exigirá, para o caso de novos projetos, que as encomendas para a construção ou reforma de instalações sejam feitas no Brasil.