A declaração da primeira-dama Ruth Cardoso a favor da aprovação da lei que regulamenta o aborto legal foi classificada de ‘‘agressão ao papa’’, ‘‘oportunista’’ e ‘‘demagógica’’ por bispos que participam do Congresso Teológico Pastoral, que acontece no Rio paralelamente à visita do papa. Ao tomar conhecimento das declarações de Ruth, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Lucas Moreira Neves, foi seco: ‘‘Haverá uma resposta, mas não agora’’.
Anteontem, Ruth afirmou, após cerimônia no Rio, que a proposta de regulamentação da lei do aborto é ‘‘um direito garantido que está sendo estendido às mulheres com menos recursos, porque elas não são atendidas no serviço público, quando deveriam ser’’.
Ruth Cardoso disse ainda que a visita do papa ao Brasil não terá nenhuma interferência na votação da lei no Congresso. A lei que tramita no Congresso regulamenta o aborto para mulheres que estejam em risco de vida em razão da gravidez ou que tenham sido estupradas. O presidente do Pontifício Conselho para a Família, o cardeal colombiano Alfonso López Trujillo, evitou comentários. Questionado sobre as declarações, bateu de ombros, virou as costas e encerrou a entrevista. Seu cargo equivale ao de ‘‘ministro’’ do papa.
O fato de o Vaticano e a CNBB não terem se pronunciado oficialmente não evitou as críticas dos bispos reunidos no congresso teológico, que acontece no Riocentro. ‘‘Para mim, o pronunciamento dela também é zero’’, disse dom Albano Cavallin, arcebispo de Londrina (PR). Ele se referia à afirmação de Ruth Cardoso de que a ‘‘relação entre o Congresso Nacional e o papa é zero’’.
O arcebispo ‘‘convidou’’ a primeira-dama para discutir o assunto ‘‘com as forças que lutam pela vida’’: ‘‘Juristas, médicos, educadores e mulheres normais’’.
Nora - A nora do presidente Fernando Henrique Cardoso, Ana Lúcia Magalhães Pinto, não estará hoje na audiência reservada à família do presidente com o papa João Paulo 2º, que acontecerá às 10h30, no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do presidente no Rio. Ana Lúcia está separada há cerca de um mês de Paulo Henrique Cardoso e era divorciada do psicanalista Eduardo Mascarenhas (que morreu neste ano), quando se casou pela segunda vez. Como a Igreja Católica não aceita o divórcio, Ana Lúcia pode frequentar a igreja, mas é impedida de receber os sacramentos. Sua ausência no encontro foi confirmada pelo Palácio do Planalto e será um constrangimento a menos para FHC.