O Paraná atingiu mais um triste recorde na pandemia. Nesta quinta-feira (2), a Sesa (Secretaria Estadual de Saúde) registou 2.060 novos doentes e 44 mortos – o maior já computado desde o início do acompanhamento epidemiológico em 12 de março. Em Londrina, mais um óbito foi somado à estatística, chegando a 83 cidadãos que perderam a vida durante a pandemia. Outros 24 novos casos se somaram aos que já enfrentaram o coronavírus e o total no município é de 1.370 doentes, sendo 196 casos ativos, 43 deles internados. Já os suspeitos têm aumentado. No último boletim da prefeitura, foram apontados 403 suspeitos que aguardam resultados de exame. A gravidade da doença é indiscutível, mas o questionamento por parte da Prefeitura de Londrina a respeito das medidas de isolamento impostas por decreto do governo do Estado, no último dia 30, é público.

Beto Preto reforçou que os 83 óbitos em Londrina representam 12% do total de todo o Paraná
Beto Preto reforçou que os 83 óbitos em Londrina representam 12% do total de todo o Paraná | Foto: Gilson Abreu/AEN

O município ingressou junto à Sesa com um recurso em que apresenta dados relativos ao comportamento da pandemia na cidade para pedir uma revisão na orientação estadual sobre o fechamento do comércio, determinado pelo governador Ratinho Junior (PSD). “Entendemos as escolhas técnicas do Estado. Não discordamos dos indicadores, mas o que avaliamos é que nossas marcas não apontam medida de restrição neste momento”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado. Segundo ele, a incidência de casos em Londrina é menor do que nas grandes cidades paranaenses, assim como a ocupação de leitos, já a taxa mortalidade está elevada porque se testa mais.

FECHAMENTO

Por parte do governo do Estado, a previsão é de que não haja nenhuma mudança em relação às decisões já tomadas. “Com muito respeito pelos municípios, peço a compreensão e a maturidade dos prefeitos. Precisamos passar por isso e contar com todos. Na tarde dessa quinta-feira (2), fizemos notificações sanitárias para 134 municípios para que possam se adequar ao decreto e para que possamos passar pelos 14 dias juntos. Reitero o que está no texto”, afirmou à FOLHA o secretário estadual de Saúde, Beto Preto. A Sesa levou em conta em sua avaliação a taxa de contágio, de mortes e a ocupação dos leitos para determinar o fechamento das atividades e impor um isolamento mais rígido. “Estamos estudando o Paraná inteiro há 120 dias, tomamos decisões diariamente, mas o fato é que, nos últimos três dias, o estado registrou 5.000 casos. Londrina e Cornélio Procópio têm registrado muitas mortes. Nós, gestores públicos, seremos cobrados, ou agora, ou depois”, afirmou Preto, que lembrou que os 83 óbitos em Londrina representam 12% do total de todo o Paraná.

Pelo que o prefeito Marcelo Belinati (PP) já afirmou em suas declarações públicas, caso a Sesa não reveja a situação da 17ª Regional de Saúde, o comércio de Londrina deverá ser fechado a partir do domingo (5) e permanecer assim até o próximo dia 14. “Sempre ficou claro que, se precisarmos fechar novamente, assim faríamos. Não é possível determinar se isso será possível, mas agora acreditamos que está sob o controle. Contratamos leitos, profissionais, compramos medicamentos. Conseguimos reduzir a taxa de transmissão de 1,44 para 1,05 e está assim há três semanas”, detalhou Machado. O secretário da cidade ainda ponderou que o SUS vem se mostrando uma ferramenta resistente de atendimento à população, mas que não há uma fórmula simples para resolver o problema. “Se fechar tudo resolvesse, seria simples. Ficávamos dois meses com isolamento máximo e depois voltávamos, mas não é assim. A diferença do veneno para o remédio é a dose”, concluiu.

ESCASSEZ

Uma das principais preocupações da gestão da Sesa é o rápido avanço da doença e a falta de insumos necessários para o tratamento. Apesar de não existir um medicamento específico para o combate, há drogas indispensáveis como anestésicos para a sedação de pacientes entubados. Devido ao alto consumo, as prateleiras estão ficando vazias. Segundo Beto Preto, no último mês, o Paraná teve um aumento no consumo de 500%. Em um hospital particular em Curitiba foi preciso fazer empréstimo do estoque público e cidades de grande porte já apresentam sinais de fragilidade. “O Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) fez a previsão de que teremos 53.000 casos até dia 12. Conseguimos hoje mais 100 respiradores com o Ministério da Saúde, mas a rede tem um limite”, afirmou Preto. Segundo o secretário Machado, Londrina tem estoque de anestésicos para as unidades próprias por 158 dias e tanto o HU (Hospital Universitário) da UEL (Universidade Estadual de Londrina) como o Hospital do Coração, que atendem a Covid-19 na cidade, têm quantidade capaz de atender aos pacientes.