Em um dos pronunciamentos mais esperados desde o início da pandemia do novo coronavírus, o prefeito Marcelo Belinati (PP) afirmou que o município decidiu recorrer administrativamente para evitar uma nova suspensão das atividades não essenciais, conforme determinou o governo do Paraná nesta terça-feira (30). Mais cedo, o governo de Ratinho Junior já havia afirmado que respeita o trabalho dos gestores municipais, mas classificou que a "responsabilidade" sobre um possível colapso no sistema de saúde de cada município seria dos prefeitos.

Imagem ilustrativa da imagem Belinati anuncia fechamento do comércio na próxima semana
| Foto: Emerson Dias/N.Com

Mesmo com a Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) tendo deixado claro que os índices de casos e mortes por 100 mil habitantes "pesaram" a favor da inclusão da 17ª Regional de Saúde no escopo do decreto estadual, a Prefeitura de Londrina solicitou informações mais claras ao Poder Executivo estadual sobre estes dados. Na prática, o recurso soa como uma forma de “ganhar tempo”, já que Marcelo Belinati também deixou claro que, caso o governo do Paraná decida não voltar atrás, a suspensão das atividades em Londrina passará a valer a partir da semana que vem. “Interpusemos um recurso junto às autoridades sanitárias, é um momento de muita delicadeza”, afirmou.

Nesta terça-feira - e novamente em live promovida pelo grupo FOLHA nesta quarta-feira (1º), a diretora da 17ª Regional de Saúde, Maria Lúcia Lopes, voltou a explicar qual é o entendimento do governo do Paraná sobre a região de Londrina. Ela destacou recentes episódios que, segundo ela, corroboram com a urgência do "endurecimento" das medidas para promover o aumento do isolamento social: o diagnóstico de casos em idosos internados em Instituições de Longa Permanência, o novo fechamento do pronto-socorro do Hospital Evangélico e constatação de casos em funcionários do Hospital do Câncer de Londrina. "Vinte idosos vieram para o HU (Hospital Universitário) imediatamente, que é o hospital referência."

Nesta quarta-feira, o índice de casos confirmados para cada 100 mil habitantes na Regional de Saúde sediada em Londrina era de 189 casos, abaixo dos 209 médios do estado. Já o índice de mortes da 17ª Regional foi o segundo mais alto do Paraná, 11,2 para cada 100 mil, sendo 5,7 a média estadual.

"Esta é uma medida protetiva, de cuidado. O que as experiências de outros Estados e países têm mostrado é que quando a taxa de ocupação de leitos bate em torno de 100%, uma taxa de mortalidade e uma incidência de casos em ascensão, aí não adianta fazer lockdown. Enfim, não tem saída, você fica administrando o caos, a indignidade e o desrespeito das pessoas", lamentou Maria Lúcia Lopes.

Belinati voltou a dedicar sua live para dizer quais foram as decisões tomadas por sua equipe para conter a pandemia da Covid-19. Ele disse que a publicação do decreto estadual causou “surpresa e estranheza”, uma vez que o município efetivou uma “quarentena severa”, definiu. “Contratamos profissionais, compramos remédios, EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), ampliamos leitos”, relembrou.

Outra crítica de Belinati foi com relação à forma com que o governo estadual comunicou a publicação do decreto, mas disse respeitar os critérios de análise adotados pela equipe da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde). Em seguida, contestou os motivos apontados pelo governador Ratinho Junior (PSD) como fundamentais para determinar um novo fechamento, dentre eles a escassez de sedativos que induzem o relaxamento dos pacientes que precisam ser entubados, a alta ocupação dos leitos destinados ao tratamento da Covid-19 e o índice de transmissibilidade do vírus.

Na manhã desta quarta-feira, viaturas da Polícia Militar estiveram na Calçadão de Londrina e orientaram comerciantes a manterem os estabelecimentos fechados. Questionado, o comandante do 5ª BPM (Batalhão da Polícia Militar), major Nelson Villa, avaliou que o decreto do governador Ratinho Júnior é muito claro ao dizer que "é de responsabilidade da Polícia Militar, em cooperação com as Guardas Municipais, quando possível, prestar apoio" aos órgãos de vigilância do município. Mesmo assim, um ofício foi enviado no início da manhã ao gabinete do prefeito Marcelo Belinati solicitando esclarecimentos.

Em Recomendação Administrativa endereçada aos prefeitos dos municípios que fazem parte das Regionais de Saúde sediadas em Londrina e Cornélio Procópio, o Ministério Público Federal, através da Procuradoria de Apucarana, recomendou que estes prefeitos deixem de regulamentar medidas menos restritivas e que "efetivamente" exerçam as ações de Vigilância Epidemiológica e fiscalização. No ofício, o procurador federal Raphael Otavio Bueno Santos fixou prazo de 48 horas para que o cumprimento destas medidas seja informado à Procuradoria.