Bares espaçam mesas e clientes marcam salão no interior após afrouxamento da quarentena
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sexta-feira, 29 de maio de 2020
MARCELO TOLEDO, PAULO BATISTELLA E JAQUELINE PEREIRA
RIBEIRÃO PRETO, PRESIDENTE PRUDENTE E BAURU, SP (FOLHAPRESS) - Na tradicional lanchonete Tio Patinhas, há 54 anos no calçadão de Presidente Prudente, o álcool em gel já divide espaço com os sachês no balcão, uma das medidas adotadas pelo local para operar delivery e atender quem compra in loco, mas é obrigado a comer fora dali.
A novidade na próxima segunda (1º), quando poderá ter clientes dentro do estabelecimento em meio à pandemia do novo coronavírus, será a exigência de distanciamento, já que, para conseguir morder uma coxinha com o clássico molho verde, o freguês terá que tirar a máscara e, portanto, estará mais suscetível à contaminação.
As regiões de Prudente, Barretos, Bauru e Central (Araraquara/São Carlos) são as únicas quatro que estão na fase 3 - numa escala de 1 a 5 - do plano de reabertura de atividades econômicas anunciado pelo governo paulista. A quarentena foi prorrogada até 15 de junho, mas a partir do dia 1º estão permitidas nessas regiões atividades imobiliárias e a abertura de concessionárias e escritórios. Também terão permissão para abrir, com restrições, bares, restaurantes, comércio de rua, shoppings e salões de beleza.
Na lanchonete de Prudente, regras como impor um tempo máximo de permanência no local, o que soaria indelicado, segundo o gerente Carlos Moreno, 57, não fazem parte dos planos. Já medir a temperatura de quem entra é algo sob avaliação: "É uma precaução para nós que trabalhamos e para os fregueses".
Sócio de uma "steakhouse" que tem operado apenas por entrega, Gabriel Pavesi, 30, já planeja a troca de cardápios por tablets, a diminuição do número de funcionários no espaço e o limite de quatro pessoas por mesa, para evitar reuniões como aniversários.
Preparado para a retomada, ele diz ainda aguardar a regulamentação na cidade para saber se o local, com salão fechado e pouca área aberta ao ar livre, estará apto a funcionar. A prefeitura disse que o decreto não prevê distinção entre restaurantes.
A autorização para voltar a receber clientes, no entanto, não deve oferecer alívio ao negócio - que tinha faturamento mensal de R$ 290 mil antes de pandemia e agora perdeu 80% disso--, já que o cenário segue pessimista, segundo ele. "Muita gente ainda estará com receio de comer fora, sair de casa."
A impressão dele é compartilhada por Theresa Lanfranchi, 70, há 51 anos à frente de um salão de beleza, que tem agendamento de 20% da clientela.
O desafio, por ora, é proporcionar no salão de 300 m², quase esvaziado, o mesmo ambiente de antes. Para isso, ela quer evitar o tema coronavírus por ali. "As pessoas estão cansadas desse assunto."
Bares, que também poderão voltar a operar com restrições, serão responsabilizados por eventuais aglomerações à sua frente - comum na região do Parque do Povo -, segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico, Carlos Casagrande. Ele disse que a prefeitura pretende fiscalizar shoppings e comércios, além de igrejas, para coibir abusos.
Já em Barretos, o empresário Nilton Cesar Borges, fez reunião nesta quinta (28) com seus funcionários sobre o comportamento a ser adotado em seu restaurante e em sua pizzaria e vai divulgar, até o final de semana, informativos para que os clientes façam reservas, com o objetivo de evitar aglomerações no Samaúma --nome das duas casas. O restaurante viu a receita cair 75% - só operou delivery -, enquanto na pizzaria a queda foi de 40%.
Com capacidade para 180 pessoas sentadas no restaurante, haverá limitação para 90 na reabertura. Borges disse que deixará todas as mesas na casa, mas com cadeiras apenas em mesas alternadas. "A mesa desocupada será um fator de limitação. A casa ficou conhecida pela badalação, mas antes de agosto toda a agenda de música ao vivo está cancelada", disse.
Cada mesa terá um cardápio e, quando ela for desocupada, a equipe da casa vai trocar toalhas, desinfetar itens e higienizar o cardápio. Garçons atenderão de máscaras e haverá álcool em gel à disposição. "É um alívio poder reabrir, mas creio que antes de novembro a situação não volte ao normal de antes da pandemia." Na pizzaria, a área kids seguirá fechada, também para reduzir movimentação.
Clientes já começaram a procurar salões de beleza para agendar horários em Bauru, segundo Cinthia Sganzella, sócia-proprietária de um estabelecimento.
"O telefone não para de tocar e temos muitas mensagens no celular. Pretendemos começar os agendamentos a partir de segunda e reabrirmos o espaço no dia 3". Entre os procedimentos mais procurados estão corte de cabelo e coloração.
Com as portas fechadas há quase 70 dias, o salão começou a ser preparado para receber clientes. "Já estamos providenciando álcool em gel, espaço entre as cadeiras, higienização e máscaras." Segundo ela, também serão implementados novos protocolos, como atender só com hora marcada, uma cliente por vez e com pagamento antes de o serviço ser efetuado.
Especializado em carnes suínas, um restaurante na zona sul da cidade também se prepara para a reabertura. "O lado positivo de abrir é que você já vai imprimindo ritmo para que daqui algumas semanas o restaurante já esteja novamente alinhado", disse, animado, o proprietário Orlando de Souza Silva.
No município, bares e restaurantes de médio e grande porte deverão reabrir apenas no dia 8 de junho. O plano de retomada das atividades econômicas, que será colocado em prática a partir de segunda-feira, será seguido por Bauru e outros 38 municípios da região.