Para o professor do Departamento de História da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Marco Antônio Neves Soares, estudioso do fascismo e do autoritarismo, a presença da bandeira ucraniana nas cores preta e vermelha nos protestos no Brasil representa os reflexos de um movimento que “mal consegue esconder a filiação ao extremismo político”.

O docente de Teoria da História acrescenta que o problema de qualquer movimento extremista é promover a crença de que é o único capaz de representar os valores de uma nação. “Esse é o problema. É o problema de não negociar, não abrir ao diálogo e não procurar o entendimento. Nesse sentido, mesmo lá na Ucrânia, embora o governo fale ‘é a nossa bandeira’, é uma bandeira de cunho absolutamente xenófobo”, explica.

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Soares destaca que outra característica de movimentos extremistas é, justamente, negar a sua natureza violenta e autoritária. E que essa é uma das principais estratégias de líderes fascistas. “É aparentemente trabalhar na legalidade quando utiliza da própria legalidade para promover ações que acabam comprometendo o status legal, o corpus de direito e a própria democracia”, aponta.

Muitos desses elementos podem ser compreendidos na Teoria da Elites, um “nome técnico” dado ao fascismo italiano. A teoria foi desenvolvida por autores como Gaetano Mosca (1858-1941) e consiste na elaboração de um pensamento sobre a organização política e social não mais a partir das classes sociais, como propôs Karl Marx (1818-1883), mas a partir da capacidade de cada indivíduo, porém, determinadas pelo mais capacitado.

"Estes autores tentaram atualizar os filósofos platônicos, mas, imersos na dinâmica capitalista, e isso torna essa teoria muito terrível. Existe ainda o surgimento das falsas vanguardas, que é gente estúpida que vai para a rua promover agitação contra o sistema para que surja, então, essa liderança fascista para que ponha ordem na casa”, acrescenta.

Um exemplo “pinçado” da história da Itália, quando dominada pelo regime fascista, é a perseguição sofrida pelo deputado comunista Giacomo Matteotti, conhecido como “El delito Matteotti. “Quando então o acusam de ter cometido diversos assaltos, crimes contra a população italiana, e ele passou a ser difamado, perseguido pelos próprios fascistas. A mentira é uma das estratégias, enganar a opinião pública”, exemplificou.