Das 413 mortes registradas em confrontos com as forças de segurança do Paraná no ano passado, 97,7% foram em ações da Polícia Militar. Os dados constam no relatório divulgado pelo Ministério Público nesta semana.

De acordo com o levantamento elaborado pelo Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), foram 433 confrontos em 2024. Além das mortes, 112 pessoas ficaram feridas.

Em entrevista à FOLHA, o major Wagner de Araújo, chefe da Comunicação Social da Polícia Militar do Paraná, explica que a PM aparece mais em ocorrências com mortes por ser constitucionalmente encarregada do policiamento ostensivo, preventivo e repressivo.

“Esse número, apesar de ser expressivo, em vista do que nós atendemos no estado inteiro no ano de 2024 em número de ocorrências, não chega a 5% do que nós atendemos efetivamente. A Polícia Militar é acionada para situações de violência doméstica, de perturbação do sossego, de roubo, em que muitas das vezes nós temos a situação resolvida na fala ou utilizando equipamentos de menor potencial ofensivo. O último recurso é realmente o uso da arma letal”, disse à FOLHA.

A Polícia Militar esteve em 424 dos 433 casos. Já a Polícia Civil apareceu em cinco ações que resultaram em mortes e a Guarda Municipal em quatro situações com óbitos.

“Esses números identificam uma ocorrência muito maior da Polícia Militar até pela natureza da atividade. Pela natureza ostensiva e porque é a polícia que é chamada no momento em que a ocorrência está em curso. Portanto, é natural que haja um número muito maior de ocorrências ligadas à Polícia Militar até em virtude do seu efetivo”, justificou o procurador Cláudio Esteves, coordenador do Gaeco.

Se comparado ao ano anterior, o número de mortes em confrontos com as forças de segurança aumentou quase 18,7%. Em 2023, foram 348 óbitos.

“Sabendo dessa situação - e é um interesse da Secretaria de Segurança Pública e do Comando Geral da Polícia Militar - que nós possamos dentro das nossas medidas reduzir cada vez mais essa questão da letalidade policial. Só que em alguns casos acaba que a ocorrência em si exige que o policial militar tenha essa postura, já que o agressor não ouve a ordem que está sendo dada naquele momento”, pontuou o major.

O promotor Ricardo Casseb Lois, coordenador do Gaesp, avalia que é difícil determinar o fator que fez com que o número de mortes em confrontos tenha aumentado.

“Esse fenômeno do confronto que hoje nós já conseguimos enxergar, seja pela análise de dados ou pela literatura, é um fenômeno extremamente complexo. Então, fica difícil estabelecer uma relação de causa e efeito para dizer o que pode ter causado um aumento em dado período temporal e cravar isso como uma causa suficiente para ter desencadeado esse resultado final”, considerou.

Os dados do Ministério Público indicam que a violência doméstica foi a segunda principal causa de confrontos no ano passado, com 112 ocorrências registradas.

“Para se ter uma ideia, quase um terço dessas ocorrências foram em situações de violência doméstica, em algumas delas tínhamos a medida protetiva de urgência. Então, esse agressor com a chegada da polícia deixava a vítima e ia para cima da Polícia Militar, em confronto”, detalhou o major Araújo.

À FOLHA, o chefe da Comunicação Social da PM garantiu que todo policial que se envolve em um confronto com vítimas passa por um acompanhamento psicológico.

“Nós sempre temos um acompanhamento deste policial para que ele não banalize determinadas situações. Todo policial militar que se envolve em um confronto tem acompanhamento de saúde mental, para verificar se ele não está abalado, se sente preparado para voltar para rua, porque não é para a Polícia Militar uma coisa normal. A vida para nós é o maior patrimônio”, contou.

Todos os agentes recebem, ainda, treinamentos periódicos sobre como agir em casos mais hostis.

“São instruções continuadas determinadas pelo Comando Geral da Polícia Militar para que esse policial haja em um primeiro momento de maneira a verbalizar e tentar resolver a situação realmente na conversa. Só que, principalmente em casos que há um agressor ativo ou um causador de evento crítico um pouco mais agitado, a ocorrência pode mudar em questão de segundos”, finalizou.