Baianos festejam Bom Jesus dos Navegantes
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sábado, 01 de janeiro de 2000
Por Biaggio Talento
Salvador, 01 (AE) - Os baianos começaram o ano hoje louvando Bom Jesus dos Navegantes, numa das mais tradicionais festas populares da capital baiana, cujo ponto alto é a procissão marítima com a imagem do santo pela Baía de Todos os Santos, entre a rampa do Mercado Modelo e a Praia da Boa Viagem. Cerca de 300 embarcações participaram do cortejo, comandada pela Galeota Gratidão do Povo, que transporta a imagem do Bom Jesus.
A grande ausência da parte religiosa da festa na manhã de hoje foi a do arcebispo de Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, que assumiu o cargo há nove meses. Ele não compareceu à missa solene celebrada na Igreja da Conceição da Praia e tampouco participou da procissão terrestre na qual os fiéis levam as imagens de Bom Jesus e Nossa Senhora, da igreja até o cais do Segundo Distrito Naval onde Bom Jesus é embarcado na Galeota Gratidão do Povo, enquando a imagem de Nossa Senhora retorna à Conceição da Praia. Nos últimos anos, o ex-arcebispo, Lucas Moreira Neves fazia questão de celebrar a missa solene e comandar a procissão terrestre.
Especulou-se que d.Geraldo teria se sentido mal, levando, inclusive, alguns fiéis a ligarem para Rádio Excelsior (da Cúria) para desejar votos de recuperação. Assessores do bispo, negaram, no entanto, qualquer problema de saúde de d.Geraldo que teria passado a manhã trabalhando em casa. A única explicação dada para o seu não-comparecimento pela manhã é de que ele não foi requisitado pela Irmandade da Boa Viagem para a missa solene
mas celebraria outra à tarde.
HISTORIA - Embora os registros oficiais da Irmandada da Boa Viagem indiquem que a procissão marítima começou com a Galeota Gratidão do Povo, a partir de 1892, sabe-se que o culto a Bom Jesus dos Navegantes remonta os primórdios da fundação de Salvador, pois muitos navegantes que atravessavam o Atlântico pediam a proteção do santo e lhe rendiam homenagens. Durante muito tempo a imagem de Bom Jesus era transportava por uma galeota da marinha imperial, mas com a Proclamação da República a embarcação não foi mais cedida para a festa.
Os fiés, então, providenciaram a construção da Gratidão do Povo, em 1891, para a festa do dia 1º do ano seguinte. A procissão marítima sempre atraiu centenas de embarcações de todo o Recôncavo Baiano, com destaque para os belos e rústicos saveiros de pescadores.
Nos últimos anos, contudo, os saveiros são cara vez mais raros, sendo substituídos pelas lanchas, iates e outros barcos alugados por turistas e pessoas da classe-média que transformaram a procissão de cunho religioso em carnaval. Em terra, o batuque ocorre nas barracas de bebidas e comidas típicas armadas no Largo da Boa Viagem, proximo à igreja, destino final da procissão.