Azitromicina não tem efeito em pacientes graves de Covid-19, diz estudo brasileiro
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sexta-feira, 04 de setembro de 2020
MÔNICA BERGAMO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O uso do antibiótico azitromicina no tratamento de pacientes com sintomas graves de Covid-19 não promoveu melhoras na evolução clínica deles.
A conclusão é de uma pesquisa feita pela Coalizão Covid-19, liderada pelos hospitais Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês. Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz, BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, pelo Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e pela Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Os resultados foram publicados na revista científica The Lancet, uma das mais prestigiadas do mundo. Os achados do estudo, portanto, não sustentam a indicação do uso rotineiro desta terapia no tratamento da doença em casos graves, afirma o grupo no texto.
A azitromicina tem sido o segundo remédio mais usado no mundo no tratamento dos doentes. Ficou atrás da hidroxicloroquina quando se acreditava que a droga era eficaz.
No Brasil, a azitromicina é distribuída por prefeituras e ministrada por diversos médicos. O prefeito Bruno Covas, de São Paulo, por exemplo, anunciou que fez uso da droga quando foi infectado pelo novo coronavírus.
"Muita gente dá azitromicina ao paciente assim que ele chega ao hospital. Mas o estudo revela que ela não traz benefícios aos doentes", diz a médica Viviane Cordeiro Veiga, da BP.
"É um bom antibiótico para infecções respiratórias, mas não tem efeitos benéficos no caso de pacientes graves da Covid-19", diz o médico Alexandre Biasi, do H​Cor.
O estudo da azitromicina é o terceiro publicado internacionalmente pela Coalizão Covid-19 desde que a epidemia começou no Brasil.
Em julho, o grupo divulgou pesquisa mostrando que a hidroxicloroquina não tem eficácia no tratamento de pacientes com sintomas leves ou moderados da Covid-19 que estão hospitalizados. Em setembro, eles mostraram que o uso do corticoide dexametasona diminui o tempo de pacientes graves da doença em respiradores artificiais.
O trabalho com a azitromicina foi realizado com 397 pacientes divididos em dois grupos. Em um deles (214 pessoas), os enfermos foram tratados com doses diárias de 500 mg de azitromicina mais tratamento padrão. Em outro, apenas o tratamento padrão. O tratamento padrão incluía todas as medidas de suporte hospitalar, uso de outros tratamentos como antivirais e, conforme padrão da época da realização do estudo, hidroxicloroquina.
Os pacientes foram acompanhados durante 29 dias. A avaliação considerou seis aspectos: ter recebido alta, mas manifestar sequela; estar internado, porém sem limitações; permanecer internado e continuar recebendo oxigênio; precisar de oxigênio, mas sem ventilação mecânica; fazer uso de ventilação mecânica e, por fim, morrer.
A análise feita 15 dias após o início dos tratamentos mostrou que não houve diferença entre os dois grupos estudados na chance de os pacientes apresentarem melhora.
Não houve diferença importante na mortalidade entre o grupo que recebeu a azitromicina e tratamento padrão (incluindo hidroxicloroquina) e o grupo que recebeu apenas tratamento padrão (incluindo hidroxicloroquina).
No primeiro, a taxa de óbitos após 29 dias foi de 42%. Entre o grupo controle, foi de 40%. Também não houve diferenças significativas no tempo médio de internação: 26 dias para os pacientes que receberam azitromicina mais tratamento padrão e 18 dias entre os pacientes que receberam apenas a terapia padrão.
Como efeitos colaterais, os dois grupos apresentarem índices semelhantes de insuficiência renal: 39% nos que receberam a azitromcina, e 33% nos que receberam apenas o tratamento padrão.