As estradas paranaenses não são a rua Augusta da música de Ronnie Cord, em que ele dizia entrar a 120 km por hora, mas o excesso de velocidade tem sido a tônica de nossas estradas. Um balanço divulgado pelo Batalhão de Polícia Rodoviária, unidade da Polícia Militar do Paraná, aponta que houve aumento de 803,29% nos registros de excesso de velocidade no primeiro semestre deste ano comparado com o primeiro semestre de 2020 na área de abrangência da 2ª Companhia PRv (2ª Companhia da Polícia Rodoviária).

Imagem ilustrativa da imagem Autuações por excesso de velocidade crescem mais de 800%
| Foto: Gustavo Carneiro

A companhia possui sede em Londrina e é responsável pelo policiamento em 2.167 Km de rodovias estaduais e 661 km de rodovias federais delegadas da região. Foram 5.498 em 2020 contra 49.663 em 2021.

O levantamento é superior ao aumento percentual registrado em todo o Estado, que no primeiro semestre deste ano subiu 507% nos registros de excesso de velocidade em comparação com o mesmo período do ano passado. Neste primeiro semestre foram registradas 177.875 imagens de excesso de velocidade no Paraná, e no mesmo período de 2020 foram 29.324 imagens registradas. Isso significa que quase um terço dos registros de excesso de velocidade no Paraná foram registrados nas estradas das regiões Norte e Norte Pioneiro (27,92%).

Segundo o subcomandante do Batalhão de Polícia Rodoviária do Paraná, major Gustavo Dalledone Zancan, parte disso se deve à uma intensificação geral de policiamento. "Nosso setor de planejamento coloca as operações a partir de estudos técnicos em locais de maior incidência de acidentes. Isso é reproduzido nos 54 postos do batalhão no Estado inteiro, inclusive nos 12 postos da 2ª Companhia da Polícia Rodoviária de Londrina", destacou.

Imagem ilustrativa da imagem Autuações por excesso de velocidade crescem mais de 800%

Outro fator apontado pelo subcomandante é que Londrina possui equipes específicas de fiscalização de controle de excesso de velocidade que as outras companhias com menos efetivo não possuem. "Maringá e Londrina são as companhias que possuem uma condição mais confortável em nível de recursos humanos. Em outras partes do Estado não conseguiram destacar um policial ou uma dupla de policiais para fazer alguns desses trabalhos", explicou Zancan.

Outro fator é que no ano passado houve alguns problemas burocráticos na aferição de aparelhos, o que resultou em aparelhos baixados para manutenção. "Isso também é um fator que realmente influenciou nessa diferença de 2020 para 2021. Um posto policial ficou sem a dotação de um radar portátil durante três meses", explicou.

Ao mesmo tempo os números do Estado indicam que houve aumento de prisões de embriaguez ao volante (+27%) , mas na região fiscalizada pela 2ª Cia PRv houve uma redução (-20%), mesmo com a intensificação da fiscalização. Zancan ressaltou que o comando do batalhão orientou que fiscalizações de bafômetro fossem realizadas apenas em casos mais extremos. "A Covid traz o risco do policial se contaminar", apontou. Mas ele garante que essa questão já está sendo superada em parte pela aquisição de radares e etilômetros passivos (bafômetros), nos quais o motorista não precisa soprar. "É um aparelho novo e que chegou em janeiro. Ele capta as moléculas da saliva só de nos aproximarmos com a conversa. Tendo um primeiro indicativo através desse aparelho, a gente convida o condutor a soprar em um etilômetro ativo, homologado pelo Contran, para obter a comprovação legal para fazer a autuação", explicou.

Além disso, a vacinação dos agentes pelo enquadramento como grupo prioritário possibilitou que as fiscalizações voltassem a ser realizadas.

Em todo o Estado, nos primeiros seis meses deste ano, foram lavrados 199 autos de infração para motoristas sob influência do álcool, contra 175 lavrados em 2020 – um aumento de 14%. Já nos casos mais graves, o crescimento foi de 83 casos (2020) para 105, acréscimo de 27%.

O levantamento também mostra que o trabalho de prevenção a crimes nas rodovias resultou na apreensão de quase 20 toneladas de drogas e no crescimento de 120% nas apreensões de armas de fogo no Estado. O número de prisões feitas pelo batalhão no período, somando autuações de trânsito e combate ao narcotráfico, subiu de 196 no primeiro semestre do ano passado para 257, um aumento de 31%. Na região da 2ª Cia PRv esse aumento não se confirmou. A quantidade de drogas apreendida caiu de 1.173,55 kg em 2020, para 954,391 kg em 2021, uma queda de 18,67%. Nenhuma arma foi apreendida no primeiro semestre do ano passado e deste ano na área de abrangência da companhia.

FATORES LIGADOS À PANDEMIA

Para o especialista em trânsito Celso Alves Mariano, o fator fiscalização representa 80% do aumento dos registros de excesso de velocidade. "Se aumentar a fiscalização, o número aumenta. Porém, pela minha experiência, digo que há também fatores ligados à pandemia."

"As pessoas passaram muito tempo reclusas devido à pandemia e a ansiedade é um problema grave. O ato de dirigir é um dos melhores mecanismos para extravasar e inconscientemente as pessoas assumem mais riscos inconscientemente do que faziam no cotidiano antigo", destacou.

Outro fator apontado por Mariano é que muitas pessoas se submeteram espontaneamente ao lockdown e a falta de hábito de circular em uma rodovia pode ter contribuído para esses acidentes. Ele também aponta que menos gente na via faz com que o convite para correr seja maior. "Quando a estrada está vazia, a sensação de velocidade é menor. Um mecanismo para fazer baixar a velocidade é estreitar a pista. Tanto é que dentro do túnel se corre muito menos", destacou.

Sobre o aumento de prisões de motoristas embriagados no Estado, ele afirmou que os motivos do abuso são sempre emocionais. "O condutor fica com pressa se está com raiva, emocionado. A não ser que o sujeito seja um sociopata que nunca tenha respeitado as leis e sempre foi um abusador e não um infrator eventual."

Mariano apontou que a restrição de funcionamento de bares e restaurantes fez com que provavelmente as pessoas passassem a adquirir mais álcool em mercados. "Isso é uma percepção pessoal, de que muita gente está bebendo muito mais em casa. Talvez seja um dos fatores para flagrar mais pessoas embriagadas nas estradas, mas isso está sombreado por estarem fiscalizando mais. É preocupante e, ao mesmo tempo, assustador", apontou.

LEIA MAIS

Polícia Rodoviária refuta 'indústria de multas'