As críticas dominaram a discussão, ontem, durante a audiência pública sobre a construção da Usina Hidrelétrica de São Jerônimo, em São Jerônimo da Serra (78 km ao sul de Cornélio Procópio), no Rio Tibagi. A audiência, que contou com um público de cerca de mil pessoas, foi coordenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e é um dispositivo previsto em lei.
O procurador-chefe do Ministério Público Federal do Paraná, Mário Gisi, disse que os impactos não foram suficientemente estudados. ‘‘Os impactos globais não devem ser simplesmente somados aos impactos localizados e regionalizados’’ argumentou Gisi. Ele se referia ao conteúdo do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) que não contemplaria os danos provocados em toda a bacia, mas somente os causados na região da barragem. O procurador também criticou a falta de esclarecimentos ‘‘mais elementares’’ sobre os programas de minimização dos impactos ambientais. ‘‘É como se estivesse emprestando um dinheiro e não soubesse nem como e nem quando ele será pago’’, comparou. Para a Companhia Paranaense de Energia (Copel), faltou tempo hábil para discutir a fundo cada programa de contenção de danos.
O promotor de Defesa do Meio Ambiente do Estado, Saint-Clair Onorato dos Santos, lembrou da ‘‘história de luta dos atingidos por barragens’’ em outras regiões (Caxias, Itaipu e Segredo). Ele questionou: ‘‘Quanto vale a perda genética de plantas e animais para o Paraná?’’
O coordenador do projeto para a Copel, José Marques Filho, reiterou que em outras áreas houve problemas para as comunidades, mas que os dias atuais são mais propícios à discussão. ‘‘Peço que se verifique a democracia e as leis e não se deve estar a favor ou contra nesse momento’’, lembrando que a audiência era apenas consultiva e não decisória.
Já o representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), Wagner Sena, cobrou um estudo de impacto ‘‘qualitativo e não quantitativo’’ para a questão indígena, já que cinco áreas serão afetadas pela hidrelétrica. Ele documentou pedido de complementação dos estudos, pois considerou ‘‘frágeis’’ os apresentados na audiência.
O presidente da Autarquia Municipal do Ambiente (AMA) de Londrina, Luis Eduardo Cheida, requereu ao consórcio que responde pelo EIA/RIMA um estudo específico que contemple a qualidade da água consumida por 350 mil pessoas no município, seguindo determinação legal.
Para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a obra deverá ser realizada. ‘‘A condição desse empreendimento é de aprovado’’, afirmou a analista de projetos da agência, Dayse Souto. A licitação, segundo ela, deve sair até junho deste ano.
Caso venha a ser construída a usina, o lago formado pela barragem inundará uma área de 68,7 quilômetros quadrados, atingindo os municípios de Londrina, Tamarana, Ortigueira, São Jerônimo da Serra, Sapopema e Curiúva. A obra está orçada em US$ 310 milhões.