Em defesa de pautas como o direito à vida das pessoas negras, indígenas e também com gritos de ordem contra o poder público, especialmente o governo federal, pela atuação frente à pandemia do novo coronavírus, um grupo denominado antifascista ocupou parte do Calçadão de Londrina neste domingo (7) sob forte aparato policial. Os manifestantes criticaram o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o vice, general Hamilton Mourão (PRTB), além de alguns ministros.

Não houve marcha e os presentes ficaram concentrados na quadra entre as avenidas São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com a PM (Polícia Militar), cerca de 250 pessoas participaram. A organização não divulgou contagem.

Os manifestantes lembraram da morte de crianças negras em ações policiais, como Ágata Félix, 8, e João Pedro Motta, 14, ambas no Rio de Janeiro. O caso George Floyd, morto por um policial nos Estados Unidos, também foi citado.

Uma das integrantes do ato classificou o protesto como solidário, já que aconteceu em todo o Brasil. “A manifestação é para se posicionar contra o atual e contínuo genocídio da população preta, que continua vorazmente, mesmo durante a pandemia. Somos todos parte de uma grande população preta, majoritariamente pobre, que está sendo assassinada não só pela Covid-19, mas pela irresponsabilidade dos nossos governantes em nível municipal, estadual e nacional. Estamos morrendo também pelas ações da polícia”, elencou a manifestante, que preferiu não ter o nome identificado.

Ela lamentou que a população não tenha direito a uma quarentena “saudável” pela crise econômica gerada pelo coronavírus. “Desde a abertura do comércio estamos vendo o aumento crescente dos casos da Covid-19. Os casos estão concentrados no centro, e é no comércio aberto que as pessoas estão se contaminando e morrendo”, afirmou. Durante as falas no ato, o prefeito Marcelo Belinati (PP) foi criticado por uma postagem feita no fim de semana, em que disse que era importante as pessoas não irem por conta da pandemia.

AMEAÇAS

Existia o receio de que pudesse haver um confronto entre grupos diferentes. Nos últimos dias, circulou nas redes sociais postagem de pessoas contrárias à manifestação, conclamando uma reação, inclusive, armada. A Polícia Militar levou um grande efetivo ao centro da cidade e fechou quatro quarteirões.

Comandante do 5º Batalhão, o major Nelson Villa justificou a ação - diferente do que foi visto em outras manifestações recentes - pela possibilidade de enfrentamento. “Em outras manifestações que aconteceram não havia nenhum indício de existência de confronto entre grupos antagônicos. Os policiais vieram preparados para evitar uma situação mais grave que pudesse acontecer. Mobilizamos um efetivo maior e para caso fosse necessário reagir e restabelecer a ordem”, disse, classificando o decorrer da mobilização como “dentro dos parâmetros democráticos previstos na Constituição”.

A polícia acompanhou de longe e não interveio. Villa relatou que algumas pessoas que estavam indo para o protesto foram revistadas e com elas apreendidos canivetes, um machado, tesoura, spray de pimenta e tinta. Ninguém foi preso. A manifestação transcorreu pacificamente e até o final da tarde não foram registrados enfrentamentos ou atos de vandalismo.

DIREITO

A Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em Londrina esteve presente após ofício do MP (Ministério Público), que recebeu denúncias de possíveis opositores infiltrados. “Lançamos nota, não em apoio à manifestação em si, pois, as pessoas deveriam ficar em casa devido à Covid-19, mas defendendo o direito de se manifestar e a liberdade de expressão. Viemos acompanhar para que não houvesse nenhum tipo de ato de violência”, destacou Rafael Colli, vice-presidente da comissão.

POSICIONAMENTO

Antes das manifestações, que ocorreram em diversas cidades, partidos de oposição ao atual governo desencorajaram a participação das pessoas apontando o momento de pandemia, em que a recomendação é isolamento e distanciamento social. Artistas também se posicionaram neste sentido, como o rapper e empresário Emicida. Durante o ato em Londrina, integrantes distribuíram máscaras, álcool em gel e reforçaram a distância mínima.