Associação quer impedir inauguração de albergue para moradores de rua na zona sul do Rio
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terça-feira, 08 de fevereiro de 2000
Por Felipe Weneck
Rio, 08 (AE) - A Associação de Moradores do Leme (Ama-Leme), na zona sul do Rio, pretende impedir na Justiça a inauguração de um albergue para 50 moradores de rua no bairro vizinho de Copacabana, prevista para março. O secretário municipal de Desenvolvimento Social, Carlos Augusto de Araújo, disse hoje que a escolha do local é irreversível e classificou a posição da Ama-Leme de "elitista". "Esse albergue é uma medida paliativa da prefeitura que não resolve o problema dos 280 moradores de rua do bairro e, a longo prazo, poderá se transformar em um mero dormitório de vagabundos e marginais atrás de banho e sopa", declarou a presidente da associação, Itamárcia Marçal, de 46 anos. Para ela, Copacabana "não é o local geograficamente propício" e o abrigo poderá trazer "problemas de segurança" para a região.
"Por que não levam esses mendigos para o Santo Cristo (na zona portuária), onde há um galpão apropriado?", questiona. "Já fizemos uma manifestação com mil pessoas e vamos até o fim contra esse projeto; se for necessário, até mesmo à Justiça", afirmou. Excluídos - O secretário municipal afirmou que o albergue - na Rua Siqueira Campos, em frente a uma galeria comercial, onde funcionava um depósito da Comlurb - será inaugurado na segunda quinzena de março. "Moradores de rua não são bandidos ou subcidadãos que devem ser excluídos da sociedade", disse. "Levá-los para longe inviabilizaria qualquer recuperação; mendigos são pessoas, não são entulho ou lixo".
Para ele, as críticas ao projeto - que teria sido discutido em reuniões com a população local - são motivadas por "interesses políticos". O secretário justificou a escolha de Copacabana para a construção do quarto albergue da prefeitura - já existem dois na Praça da Bandeira (com 70 vagas) e um no Rio Comprido (16), na zona norte dizendo que "depois do centro, é o bairro com maior concentração de moradores de rua e a população reclamava por providências."
O secretário afirma que o trabalho não é assistencialista e oferece uma oportunidade de reintegração social à população de rua. "Temos o apoio da Arquidiocese do Rio nesse projeto, que é ligado diretamente à Secretaria de Trabalho", disse. Segundo ele, 80 mendigos que dormem na Praça da Bandeira já foram cadastrados para trabalhar em uma cooperativa de catadores de papel.
Desinformação - "Na prática, esse projeto só vai servir para atrair mendigos de outros bairros", acredita Itamárcia. "Acho normal a resistência, porque há muita desinformação, além do preconceito contra a pobreza, mas em um mês isso acaba", disse Araújo.
O albergue de Copacabana deverá funcionar das 19 horas às 9 da manhã. Os moradores de rua poderão dormir e tomar banho, com direito a jantar e café da manhã. "Não é um hotel para mendigo, é um espaço para o trabalho, onde eles poderão readquirir a dignidade de cidadãos".
A prefeitura estima em 1.400 o número de moradores de rua na cidade. Está prevista a abertura de mais dois albergues, em São Cristóvão (60 vagas) e na Ilha do Governador (20).