BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em carta enviada ao ministro Ricardo Lewandowski, do STF, a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) afirma que o Ministério da Saúde apresentou medidas parciais e equivocadas para a vacinação contra o coronavírus.

O documento foi enviado nesta terça (15), após o Ministério da Saúde incluir nomes de especialistas que são vinculados à entidade e que foram destacados para ajudar o governo na elaboração do plano nacional de vacinação. Eles, no entanto, afirmam que não participaram efetivamente do planejamento e criticam a proposta do ministério.

“A Abrasco não considera o que foi anunciado como um verdadeiro e efetivo plano para contenção da pandemia mediante vacinação de abrangência nacional. Entende que esse anúncio apenas enumera medidas parciais, e em alguns casos equivocadas, em resposta à crescente demanda da sociedade. Portanto o que foi apresentado é de exclusiva responsabilidade do governo federal”, afirma a carta.

A entidade explica ao ministro do Supremo que recomendou os especialistas ao governo como é parte da tradição do SUS (Sistema Único de Saúde), para colaborar com a construção do plano nacional de vacinação, prática repetida há 47 anos.

“Entretanto, no caso em tela, [a Abrasco] enfatiza que a participação dos especialistas por ela indicados na construção do ‘plano’ foi esporádica, pouco sistemática e variável segundo a convocação de cada segmento e da participação de cada colaborador”, diz a carta.

“O formato da discussão, segmentada em 10 grupos com temas específicos, dificultou a participação, por não haver clareza da totalidade da discussão. Além disso, o ambiente proporcionado pelo ministério nas reuniões foi pouco afeito ao diálogo e com orientações de sigilo, incompatíveis com uma prática de efetiva colaboração”.

A Abrasco afirma ainda, na carta, que considera urgente a apresentação de um “verdadeiro, completo e detalhado plano” para a imunização contra a Covid e recomenda que todos os produtos avaliados como eficazes, incluindo a Coronavac, devam fazer parte da campanha.

A Folha de S.Paulo detalhou a conversa dos especialistas com Pazuello, no último dia 1º. Todos tiveram os microfones silenciados e só puderam fazer interações por escrito, com a promessa de que a resposta seria dada em até sete dias, o que nunca ocorreu.

Em nova ocasião, uma semana depois, especialistas divergiram do Ministério da Saúde sobre a exclusão da população carcerária como grupo prioritário, e suas considerações também foram ignoradas.

A bancada do PSOL na Câmara informou que vai adicionar as circunstâncias das reuniões com o ministério como mais um elemento de prova na representação contra o ministro da Saúde à PGR (Procuradoria-Geral da República).