Assembléia do AM pode investigar crime organizado
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quinta-feira, 30 de março de 2000
Por Kátia Brasil (especial para a AE)
Manaus, 31 (AE) - Um novo relatório sobre a Polícia Militar do Amazonas, com denúncias do envolvimento de oficiais com o tráfico de drogas, pode levar a Assembléia Legislativa a investigar o crime organizado, com o apoio dos deputados federais que compõem a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico na Câmara dos Deputados e a Polícia Federal (PF). A origem da investigação será uma suposta amizade de oficiais: dos tenentes-coronéis Hilacy Ardaya e Louismar Mattos Bonates e do major José Arimathéia Moura com o traficante conhecido como "Tupã". O traficante seria o responsável pela distribuição de drogas nos bairros da zona leste de Manaus.
Na segunda-feira (03), o deputado Wallace Souza (PSC-AM)
autor do relatório que aponta o envolvimento dos oficiais com o tráfico, convocará, por requerimento, o relator da CPI do Narcotráfico, Morani Torgan (PFL-CE), e o superintendente da PF no Amazonas, delegado Lacerda Carlos Júnior. Souza diz que a convocação das autoridades federais é por causa das dificuldades nas investigações e, em especial, pelas pressões de deputados contrários a instalação de uma CPI. "Essa investigação merece transparência; e, com as autoridades federais, não terá pressões", afirmou Souza.
O envolvimento dos oficiais com "Tupã" foi investigado por Souza, a partir de um dossiê, no qual também constam denúncias de desvio de verbas da corporação. Segundo o dossiê, "Tupã" é vizinho e amigo de Moura. "O major confirmou-me essa amizade em depoimento", afirmou Souza.
De acordo com o relatório do deputado, o "Tupã" teria dado um Pálio a Ardaya. "O tenente apresentou-me em sua defesa um carnê com prestações do carro", disse o deputado, que não ficou satisfeito com a investigação preliminar que fez e não pode comprovar a denúncia contra Bonates. Segundo a denúncia, dentro do armário de Bonates, no Batalhão de Polícia Especial (BPE), teriam sido encontrados 300 gramas de cocaína. "O Comando do BPE afirmou que nada foi encontrado no armário do oficial", declarou o deputado.
A reportagem procurou o Comando-Geral da PM do Amazonas para falar sobre as denúncias. O assessor de Imprensa da 5.a Seção, capitão Samuel Gomes Farias, disse que o comando não recebeu formalmente o relatório de Souza.
"Em razão disso, não tomamos posição", afirmou Farias, adiantando que, a partir da existência de algo concreto e comprovado, o comando afastará os oficiais.