Argentina diz que regimes cambias antagônicos não comprometem relações no Mercosul
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2000
Por Vladimir Goitia
São Paulo, 12 (AE) - A convivência entre dois regimes cambiais antagônicos, como do Brasil (flutuante) e da Argentina (fixo), é perfeitamente factível e não impossível, desde que a política fiscal dos países esteja orientada à solvência fiscal, disse o economista Carlos Winograd, secretário de Defesa da Concorrência da Argentina e um dos principais assessores do ministro José Luis Machinea.
Na semana passada, Winograd fez parte da primeira visita oficial de Machinea ao Brasil, onde se encontrou com o ministro Pedro Malan e com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga.
O secretário argentino disse à Agência Estado que a posição de Malan e de Fraga foi de total consenso e de extremo racionalismo sobre a convivência dos dois regimes cambiais. "Temos consciência de que existem problemas e da necessidade de reformular a relação dos dois países em dois ou três aspectos", explicou Winograd.
De acordo com o economista argentino, é de extrema necessidade entender que os preços relativos tiveram uma variação violenta com a desvalorização do real. "Se queremos um mercado comum sério e não apenas um intercâmbio de comércio de mercadorias, não podemos esperar que a solução de questões urgentes, como a dos carros, por exemplo, venha dos presidentes, mas de uma distribuição de benefícios para os dois países de forma equitativa", disse Winograd.
O secretário acredita que os incentivos fiscais concedidos à indústria automobilística brasileira, além de gerar déficit para as contas do governo, gera distorções nos investimentos, que precisam ser corrigidos. "É isso que estamos buscando e acredito que a solução para isso será o bons senso", disse Winograd.
Um dos maiores problemas que o setor automobilístico argentino enfrenta é a competitividade. Levantamentos não oficiais mostram
por exemplo, que o custo trabalhista na Argentina seria de US$ 4 por hora, enquanto que no Brasil não passaria de US$ 1,40 a hora. A associação argentina de fabricantes de autopeças afirma que, em função disso, cerca de 10% das fábricas desse setor teriam se transferido para o Brasil apenas no ano passado.
A solução para esse problema seria um regime automotivo comum no Mercosul com as mesmas vantagens para as partes. Mas um acordo entre brasileiros e argentinos parece estar cada vez mais longe. Se o acordo não sair até o dia 29 de fevereiro, a Argentina vai depender apenas da aprovação da Organização Mundial do Comércio (OMC) para prorrogar seu regime especial, que concede incentivos fiscais, tributários e tarifários para todo o setor automotivo do país.