Liderando o número de casos no Paraná, a cidade de Apucarana está enfrentando uma epidemia de dengue. De acordo com o balanço divulgado pela Sesa (Secretaria da Saúde do Paraná) nesta terça-feira (23), o município já confirmou 2.629 casos da doença neste período epidemiológico, sendo que 1.027 foram registrados em apenas uma semana. Na semana passada, a cidade tinha 1.602 confirmações, o que representa um aumento de 64% nos casos da doença em sete dias.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Apucarana, no mesmo período do ano passado, a cidade tinha confirmado cerca de 300 casos de dengue. Com o número alarmante e a alta demanda por atendimentos, a solução encontrada pelo município foi transformar o ginásio de esportes da cidade em uma unidade emergencial para atender pacientes com a doença, que vai entrar em funcionamento já nesta quarta-feira (24).

Emídio Bachiega, secretário de Saúde, afirma que, mesmo com o trabalho feito pelo município desde o fim de julho, quando teve início o período epidemiológico, o número de confirmações da doença é muito elevado. Segundo ele, o inverno ameno de 2023 e a previsão de que os meses de calor seriam intensos e com muita chuva já indicavam um cenário favorável para o Aedes aegypti. “A gente já estava com ações desde o ano passado, [como a] coleta de pneus, coleta de móveis inservíveis, com os agentes trabalhando e a gente estava sempre passando [o cenário da doença] para a população”, explica.


Em novembro, segundo ele, foram feitos diversos apelos para que a população tomasse os devidos cuidados com o mosquito por conta do aumento perceptível no número de casos. Apesar dos apelos, as confirmações continuaram subindo, atingindo a marca de 2.629 casos positivos nesta terça-feira (23). Apenas entre os dias 16 e 23 de janeiro foram confirmados 1.027 casos, o que representa um aumento de 64% no número de positivações em sete dias. No mesmo período do ano passado, a cidade tinha registrado apenas 300 casos.

Com pouco mais de 135 mil habitantes, Apucarana é a cidade do Paraná com o maior número de casos da doença, à frente de cidades como Londrina, que é quatro vezes mais populosa e que registra até agora 1.355 casos, e de Maringá, com 952 positivações. No total, foram confirmados 16.693 casos de dengue no estado.

Além da crescente no número de casos, a cidade também analisa a possibilidade de que seis óbitos tenham sido causados pela doença. Até então, a última morte pela doença em Apucarana tinha sido registrada em 2022. Em todo o Paraná, foram confirmadas quatro mortes, sendo que outras 14 permanecem em análise.

As medidas tomadas para tentar frear o número de casos abrangem os mutirões de limpeza, em que as equipes, com ajuda de maquinário, estão fazendo a retirada de entulhos e outros materiais que possam acumular água. Além disso, a Sesa enviou quatro veículos do fumacê entre os dias 5 e 19 de janeiro na cidade, que, segundo o município, devem retornar para um reforço nos próximos dias.

ATENDIMENTOS

Em relação aos atendimentos, o secretário reforça que a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da cidade estava sobrecarregada, o que motivou a abertura de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) voltada exclusivamente para o atendimento de pacientes com suspeita ou com dengue confirmada no fim do ano passado. Entretanto, com a continuidade no aumento de casos, a solução foi transformar o ginásio de esportes da cidade em uma unidade de saúde.

Imagem ilustrativa da imagem Apucarana confirma mais de mil casos de dengue em apenas uma semana
| Foto: Divulgação/Prefeitura de Apucarana

A unidade emergencial começa a atender a partir desta quarta-feira (24), das 8h às 22h, com estrutura que conta com consultórios e com uma equipe de pelo menos 20 profissionais, dentre médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem. “É a maneira que a gente encontrou para tratar todas as pessoas que acabaram adquirindo a doença”, explica.

Bachiega reforça que a população da cidade está assustada com o cenário, já que é a primeira vez que a cidade enfrenta uma epidemia tão grave como essa. Para ele, a explicação para esse cenário é o aumento do calor e das chuvas, o que facilita a reprodução do mosquito da dengue.

O secretário reforça que outro fator que pode ter contribuído é o fato de que a Rumo, concessionária que administra a malha ferroviária na região, não estava realizando a roçagem do mato no entorno da linha que cruza a cidade. “Isso contribuiu para que tivesse mato ali e acumulasse água parada nesses locais”, explica, afirmando que o município já encaminhou uma notificação para que a empresa fizesse a roçagem e a limpeza dos trechos. A Folha questionou a concessionária a respeito do serviço, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.

Além disso, segundo o secretário, o trabalho também envolve a conscientização da população, já que a maior parte dos focos do mosquito está dentro das casas. Bachiega afirma que foi realizado um trabalho junto à Secretaria de Educação com as crianças do município para auxiliar no combate ao mosquito, que também não foi suficiente para reverter o cenário epidêmico. O secretário pontua que um dos maiores desafios enfrentados é em relação às casas que estão fechadas (sem moradores). Ele afirma que os proprietários e imobiliárias também foram notificadas para realizar a limpeza dos terrenos e imóveis.

Com mais dois meses de verão pela frente, Emídio Bachiega afirma que o cenário futuro é de muito trabalho em ações preventivas, assim como de conscientização da população para que elimine focos do mosquito e que utilize repelente. “E caso tenha sintomas da doença, que procure o atendimento”, reforça.