A APP-Sindicato (Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná) encaminhou um ofício ao governo do Estado solicitando a redução da nota de corte na prova de conhecimentos específicos do concurso para professores. As provas do certame, que é o primeiro em dez anos no Paraná e está ofertando 1.256 vagas nos 32 NRE (Núcleos Regionais de Educação), foram aplicadas no dia 18 de junho.

Os candidatos passaram por uma prova objetiva dividida em dez questões de conhecimentos didáticos e outras 20 de conhecimentos específicos, que somam 45 pontos (ou 1,5 ponto por pergunta). Para não ser eliminado, é necessário acertar três questões (4,5 pontos) na primeira parte e 12 (18 pontos) na segunda. A soma mínima é de 22,5 pontos.

Segundo o edital, quem for aprovado nesta etapa terá a sua prova discursiva, que foi realizada no mesmo dia, corrigida; na sequência, para quem avançar, haverá a realização da prova prática.

De acordo com Élio da Silva, secretário de Finanças da APP, a entidade está pedindo uma redução de 12 para dez questões na nota de corte da prova de conhecimentos específicos. Ou seja, uma mudança de 60% para 50% no mínimo para aprovação nessa fase.

“No entendimento da APP, como o Estado ficou muitos anos sem realizar concurso público, e agora faz um concurso onde, de certa forma, a banca, de certa forma, penaliza e faz uma prova bastante desorganizada e confusa, isso impossibilita os candidatos de se classificar”, explica Élio, que destaca que o sindicato quer que haja um maior número de classificados, até para que a administração estadual possa contratá-los futuramente. “O Estado hoje tem uma defasagem muito grande. Temos cerca de 25 mil contratos temporários, que ocupam vagas que eram para serem concursadas.”

Na avaliação do secretário, isso traria mais coerência entre as etapas do concurso, já que a nota de corte da prova discursiva é de 50% (2,5 dos cinco pontos).

“Você reduz a nota de corte e não prejudica todos os candidatos. Você possibilita apenas que mais pessoas acabem se classificando”, afirma, ressaltando que, com isso, mais candidatos vão ter suas redações avaliadas e têm chance de chegar à avaliação prática.

O secretário de Finanças também acredita que um cancelamento do concurso “é mais difícil”, justamente porque as provas já foram aplicadas e os recursos apresentados por candidatos podem dar conta de problemas nas provas.

CANDIDATOS

À FOLHA, um candidato que fez a prova de Pedagogia afirmou que alguns conteúdos, da forma como estavam no edital, não permitiram "delimitar tão bem quais eram os conteúdos que você precisava estar estudando”. Ele também aponta que, na sua opinião, pelo menos duas questões “acabam saindo um pouquinho fora, ou não sendo contempladas da forma que você espera pelo edital”.

“Reduzir de 12 para dez, tirar de 60% e ir para 50%, dá essas duas questões que podem estar meio falhas e dar a possibilidade de outras pessoas irem pelo menos para a fase da redação”, destacando que acha importante que a prova dissertativa seja corrigida. “Eu acho justo o pessoal ser contemplado."

Outro candidato, que fez a seleção para Geografia e Pedagogia, avaliou que o edital da primeira área era muito abrangente, “relacionado ao Brasil e ao mundo”. “Ficou meio que sem saber o que estar estudando ou não. Isso aí já é um aspecto negativo para as pessoas que foram fazer a prova”, dizendo que a prova para pedagogo tinha algumas questões que não “batiam muito com o que foi pedido no edital”.

“Eu acho que a redução da nota de corte seria algo para equiparar essa falta de comprometimento com o edital apresentado para a gente. Fora que, conheço muitas pessoas que trabalham na área da educação e fizeram essa prova, e percebi que muitas reclamaram desse mesmo fato do edital não bater com a prova”, afirma.

CENÁRIO

Silva lembra que a reivindicação por abertura de vagas concursadas para o magistério é histórica no Paraná e vem sendo intensificada desde 2018. A ideia é o preenchimento das chamadas “vagas reais”, e que a redução na nota de corte “é uma possibilidade de ampliar” as oportunidades dentro desse mesmo certame.

“A luta que a APP está fazendo é dentro desse processo que já está aberto, no sentido de chamar o maior número de pessoas”, afirma. “Nós entendemos que a escola pública é feita a partir da carreira e valorização dos profissionais. Nossos professores temporários acabam tendo mais dificuldade para contratação, acabam não criando vínculo em uma só instituição. Isso tem prejudicado a questão de ensino-aprendizagem.”

Procurada pela reportagem, a Seap (Secretaria de Estado da Administração e da Previdência) afirmou, em nota, que o documento protocolado pela APP-Sindicato “está em trâmite na Secretaria da Educação e será analisado pela Comissão responsável pelo concurso. A resposta será enviada via ofício à entidade”.

Em relação aos recursos solicitados pelos candidatos, a pasta afirmou que “estão em análise pela banca responsável pelo certame, conforme estabelecido no edital de abertura do processo. Os resultados e o cronograma serão divulgados no portal do Instituto Brasileiro de Formação e Capacitação, canal oficial para os comunicados sobre o concurso”.

“Além dos recursos abertos relacionados às questões e aos gabaritos de provas, houve 68 registros de candidatos eliminados durante a aplicação das provas, a maior parte (63) por deixar o celular em funcionamento enquanto os exames eram aplicados. Nenhum outro relato de problema relacionado às provas chegou até a Divisão de Concursos Públicos do Estado. As provas registraram 15% de abstenção - índice dentro do esperado para um concurso aplicado simultaneamente em 30 cidades”, completa a nota.