Mesmo tendo participado das discussões sobre o plano de retorno às aulas de forma escalonada, apresentado pela Seed (Secretaria de Estado da Educação) do Paraná, no dia 30 de julho, , a APP-Sindicato decidiu não assinar o documento e considerou qualquer possibilidade que vá neste sentido como “descabida”. Para o presidente da entidade, Hermes Leão, não há que se debater o retorno das aulas presenciais enquanto não houver total controle dos órgãos de Saúde sobre a pandemia do novo coronavírus.

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materia sobre os sessenta anos do colegio aplicaçao - unidade centro - fotos: gustavo carneiro - folha de londrina - 09/07/20 | Foto: Gustavo Carneiro

De acordo com a Seed, o plano foi elaborado após 33 horas de reuniões com os integrantes do Comitê Volta às Aulas, que conta com o acompanhamento do Ministério Público. O grupo é formado, também, por representantes das secretarias de Educação e Saúde, Casa Civil, Upes (União Paranaense dos Estudantes Secundaristas), Sinepe (Sindicato das Escolas Particulares) e Fepamef (Federação das Associações de Pais, Mestres e Funcionários das Escolas Públicas do Paraná).

Além das medidas de segurança sanitária e pedagógicas previstas, o protocolo estabelece que o retorno só ocorrerá com a autorização da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) a partir da constatação de um panorama epidemiológico consistente e regionalizado. Entretanto, a Seed e o próprio governador Ratinho Júnior (PSD) já haviam estimado o retorno gradual a partir de setembro.

CINCO MILHÕES DE MÁSCARAS

Entre as medidas sanitárias previstas estão a compra de insumos e EPI (Equipamentos de Proteção Individual) para todos. Só para a rede estadual serão adquiridos 5 milhões de máscaras de tecido, 200 mil litros álcool em gel por mês, 200 mil litros de álcool 70% por mês, 95 mil luvas, 10 mil termômetros, 15 mil toucas, 105 mil dispensers, 15 mil macacões e 15 mil botas, diz a Seed.

Além dos insumos, o protocolo prevê o distanciamento social em todos os espaços e também será feita a aferição da temperatura de todos os que adentrarem a escola, tendo como limite 37ºC. A rede estadual é composta por 2.143 escolas. São aproximadamente 1,07 milhão de alunos do ensino fundamental e médio da rede estadual.

Conforme apurou a reportagem, o levantamento que ainda vai ser realizado de forma on-line com as famílias será importante para embasar, também, o planejamento da compra de parte dos insumos necessários. Este protocolo também prevê que o retorno poderá ocorrer de forma regionalizada, informou Gláucio Dias, diretor-geral da pasta. “Ou seja, a região que está com bom desenvolvimento da pandemia, retorna às aulas. Na região que estiver com um quadro não muito positivo, as aulas não retornam. A Seed e Sesa estão elaborando este mapeamento para dividir o Paraná em várias regiões”, explicou

GRADUAL

Ainda conforme a Secretaria, os estudantes do 3º ano do ensino médio e 9º ano do ensino fundamental seriam os primeiros a retornarem. Em seguida, os demais estudantes do ensino médio, seguidos dos ensinos Fundamental II e I, de modo que os alunos da educação infantil seriam os últimos. O plano também prevê a divisão das turmas de modo que cada grupo fará um revezamento semanal entre a escola e própria residência.

Questionada pela FOLHA, a assessoria de comunicação da Seed informou que ainda não há um levantamento preciso sobre quantos alunos possuem doenças respiratórias, porém isso ficará claro no questionário que ainda será aplicado. Já segundo a APP, 5.126 professores, 261 pedagogos e 740 membros das diretorias possuem mais de 60 anos.

INSEGURANÇA

Para o presidente da App-Sindicato, entidade que representa mais de 60 mil professores, Hermes Leão, o retorno na modalidade presencial é algo que não deveria ser debatido enquanto a pandemia não estiver complementa controlada. Para ele, a medida colocará em movimento, além dos estudantes, profissionais do transporte escolar e familiares dos alunos, o que poderá chegar a 2,5 milhões de pessoas e acabar com o distanciamento social, estimou.

Leão também destacou aspectos que não estariam sendo levados em consideração, como a infraestrutura antiga de muitas escolas estaduais do Paraná. “Uma prova, um vestibular, conclusão do ano letivo não precisa ser em 2020. É mais importante se chegar vivo do que colocar esta movimentação de transporte escolar. Tem escolas que nem as torneiras funcionam direito. Nós temos salas com 40 estudantes, você vai dividir, digamos 15 alunos em salas que têm janelas com pouquíssima ventilação”.

Embora a Seed (secretaria estadual de Educaçao) já tenha informado à FOLHA de que a evasão escolar aumentou após o início das aulas remotas, a expectativa do presidente da APP é que haverá um aumento nas desigualdades entre os estudantes.

REDE PARTICULAR

Presidente do Sinepe (Sindicato das Escolas Particulares) , Esther Cristina Pereira, comemorou a publicação do protocolo. Em entrevista à FOLHA, Pereira citou o exemplo das escolas de Manaus, que já retornaram há 28 dias sob os mesmos moldes. "Fizemos uma live com o Sinepe de lá e ninguém na escola ficou doente, fizeram um retorno extremamente responsável", avaliou.

De acordo com ela, ainda falta um protocolo para a educação dos alunos de zero a dois anos. Entretanto, um infectologista foi contratado pelo Sinepe e deverá elaborar este documento.