Com uma nova onda de calor na região, a principal pedida da população é muita sombra e água fresca. Entretanto, a água vem sendo um problema para muita gente, já que moradores de Londrina vem reclamando que a água está com gosto e cheiro ruim desde a semana passada.

As primeiras reclamações ocorreram na última terça-feira (12), sendo que a Sanepar garantiu que o problema seria gradativamente resolvido até o fim de semana. Nesta segunda-feira (18), moradores da zona sul e oeste da cidade relataram que o cheiro e o gosto permanecem ruins e que a opção vem sendo a compra de galões para beber e cozinhar.

A biomédica Luana Carvalho, 28, moradora da Rua Lituânia, na zona sul de Londrina, conversou com a Folha na semana passada e relatou a presença de um cheiro forte e de um gosto ruim tanto da que vem da caixa quanto da água que vem direto das tubulações da Sanepar. Nesta segunda-feira, sete dias após sentir o primeiro sinal, ela relata que o odor e o gosto permanecem ruins.

Segundo ela, com o passar dos dias, a intensidade do cheiro foi aumentando, tanto que a pior parte tem sido o banho. “O cheiro parece que fica na gente, fica na toalha de banho. A gente toma banho e parece que não está limpo, fica um cheiro na pele. É bem desconfortável”, detalha. Carvalho conta que não viu melhora no decorrer da semana, mesmo com a promessa da Sanepar.

Diante do problema, a solução tem sido comprar água mineral para beber e cozinhar, fazendo a família desembolsar até o momento pelo menos R$ 120, o que representa mais de um terço do valor que eles pagam na fatura de água por mês, que fica em torno de R$ 300.

Além do gasto extra, ela detalha que o preço das garrafas de água subiu, assim como tem sido mais difícil encontrar garrafas de 500ml no supermercado. “Ainda mais com esse calor, a gente tem que se hidratar, a gente tem que consumir bastante água para tentar amenizar esse calorão, essa secura. Então eu acredito que esse valor tende a aumentar porque a água continua do mesmo jeito”, afirma.

Mesmo com algumas pessoas dizendo que é só “ferver a água”, Carvalho garante que mesmo com a fervura o cheiro e o gosto continuam ruins, assim como o filtro também não está resolvendo o problema. “O que mais incomoda é o secretário da Sanepar dizendo que não tem nenhum problema, que é ligado com a percepção e com a memória afetiva, mas é impossível uma cidade inteira estar relatando esse tipo de alteração e eles simplesmente não fazerem nada”, pontua.

Para a biomédica, uma atitude correta da Sanepar seria a redução na fatura de água dos consumidores no mês, já que muitas pessoas não estão conseguindo utilizar o serviço por conta do odor e do gosto.

Na zona oeste, as reclamações por conta do gosto e do cheiro da água também permanecem. Luis Gustavo Luz Sugayama, 36, trabalha em uma barbeira no Jardim Nova Olinda e disse que vem sentindo uma diferença na água desde a última terça-feira. Segundo ele, a água está com gosto de terra e com um cheiro bem forte, o que traz um certo receio de beber a água que sai da torneira.

Por conta disso, ele vem comprando galões de água nos últimos dias, mas que isso vem sendo uma tarefa difícil: “hoje eu fui em uns três mercados e não achei”.

O barbeiro ressalta que o medo é de beber a água e contrair algum tipo de doença. “A gente paga tão caro para a Sanepar para estar tendo esse tipo de desconforto, então eu acredito que eles já deveria ter visto isso”, opina, complementando que o tratamento que é feito na água deveria retirar todo o cheiro e gosto do líquido, que deve ser insípido, inodoro e incolor.

Além da dificuldade em encontrar água mineral para comprar, Sugayama ressalta que o preço está mais salgado, principalmente pela alta procura. Para ele, o mínimo que a Sanepar deveria fazer é uma reparação de valor nas próximas faturas, já que muitas pessoas estão tendo que comprar água para beber. “Também deveriam ver se não tem nenhum problema de a gente estar tomando essa água porque eles falarem é uma coisa, mas tem que fazer algum tipo de consulta para ver se não vai ter nenhum problema para a saúde mesmo”, afirma.

Em relação aos clientes da barbearia, ele explica que, apesar do uso de xampu e outros produtos, é possível sentir um cheiro forte depois de lavar o cabelo dos clientes. “Por mim, era melhor eles terem cortado [a água] do que ter deixado dessa forma”, pontua.

Também no Nova Olinda, Tathielle dos Santos, 29, conta que percebeu um gosto ruim na água há cinco dias, sendo que no primeiro momento achou que era um problema na caixa d’água, mas que o marido verificou que o recipiente estava normal e que a questão era geral. Para ela, a água tem um gosto forte de sujeira; já o cheiro permanece normal.

Com duas filhas, de 2 e 5 anos, Santos tem optado por comprar água para oferecer às meninas, principalmente pelo medo de que elas fiquem doentes. Pagando R$ 7 por um galão de cinco litros, ela já gastou por volta de R$ 80 com a água que é utilizada para o consumo da família. Para cozinhar, ela está fervendo a água antes de fazer os preparos, mas mesmo assim ainda é possível sentir um gosto diferente.

SANEPAR

Em entrevista à "FOLHA" na semana passada, Gil Gameiro, gerente da Sanepar, disse que o cheiro e o gosto ruim presentes na água foram sentidos pela primeira vez no dia 9 e que, a partir daí, foi iniciada a aplicação de substâncias, como o peróxido de hidrogênio, para auxiliar no tratamento da água. A suspeita inicial seria de que a presença de matéria orgânica, como algas, teria ocasionado o problema. Na data, ele garantiu que a água é potável para consumo e que a percepção de alterações varia de pessoa para pessoa. Além disso, disse que, com o tratamento, o cheiro e o gosto ruim desapareceriam até o fim de semana, conforme a água nas tubulações e caixas d’água fosse sendo trocada.

Nesta segunda-feira (18), a reportagem solicitou uma nova entrevista com o gerente por conta da persistência do problema, mas a assessoria da concessionária disse que, no momento, iria se manifestar através de nota. No documento, a Sanepar informa que as amostras de água tratada do sistema Tibagi “já não apresentam cheiro e nem gosto”, mas que a percepção pode persistir para alguns consumidores pelo fato de existir água nos reservatórios e nas residências que ainda não foi trocada.

A nota reforçou que a potabilidade da água distribuída em Londrina e Cambé “continua sendo garantida” e que, apesar do cheiro e gosto alterados nos últimos dias, a água da Sanepar é própria e pode ser consumida, sem riscos para a saúde”. Ao ser questionada pela reportagem sobre a possibilidade de aplicar algum tipo de redução nas faturas de consumidores afetados pela situação, a Sanepar se limitou a dizer que a água é própria para consumo.