Imagem ilustrativa da imagem Após questionamentos, outdoors alusivos ao tratamento precoce para Covid-19 são retirados
| Foto: iStock

Depois de ter sido notificada pela Prefeitura de Curitiba, a associação Médicos Pela Vida - Covid-19 afirmou que todos os outdoors informativos sobre a suposta eficácia do tratamento precoce contra a Covid-19 foram retirados em seis bairros da capital do Paraná. Conforme a associação, o material publicitário foi instalado por empresários de Curitiba que receberam estes cuidados ao serem diagnosticados com a doença e, por isso, apoiam a adoção do tratamento, indicado pela associação para os primeiros dias após o surgimento dos sintomas como forma de evitar a evolução da doença e internações hospitalares. No entanto, a estratégia não é indicada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e não existem evidências científicas que indiquem a combinação destes remédios como principal forma de combater o avanço da pandemia. Pelo contrário. Médicos que estão no comando de instituições de saúde têm relatado um efeito negativo indireto causado pela adoção do tratamento: a procura tardia destes pacientes pelo serviço de saúde, quando as lesões pulmonares já estão muito adiantadas.

A administração de remédios como Azitromicina e Ivermectina, entre outros, tem sido alvo de amplas discussões há vários meses. Enquanto estes remédios têm sido diagnosticados por médicos de todo o País para pacientes com sintomas, autoridades de saúde, como o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), têm demonstrado preocupação com o desrespeito às outras medidas de contenção do vírus embasadas na crença da eficácia do tratamento como estratégia nacional.

Na semana passada, o MPPR (Ministério Público do Paraná) enviou um questionamento à Secretaria Municipal de Urbanismo de Curitiba para apurar se a instalação dos outdoors havia sido autorizada. No pedido, o MPPR argumentou que, além de não encontrarem respaldo em evidências científicas, os supostos benefícios do chamado “kit covid” não são reconhecidos pelas fabricantes dos medicamentos, nem mesmo pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os promotores também apontaram que, segundo o artigo 113 do Código de Ética Médica, os profissionais estão proibidos de “divulgar, fora do meio científico, processo de tratamento ou descoberta cujo valor ainda não expressamente reconhecido cientificamente por órgão competente”.

Em seguida, o prefeito Rafael Greca (DEM) autorizou a retirada e notificou o CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná) para que se manifestasse.

Questionado pela FOLHA, o CRM-PR enviou uma nota afirmando que o momento é de “união no combate à pandemia e que as normas para a publicidade estão contidas no Manual de Publicidade Médica (resolução 1.974/2011), do Conselho Federal de Medicina. “Toda a prescrição médica deve ser individualizada através de consulta e registrada em prontuário. Somente o médico pode diagnosticar e tratar doenças. A autonomia do médico e do paciente é garantida conforme parecer CFM nº 4/2020”, completou a nota.

À FOLHA, a associação disse que suas ações informativas e de capacitação sobre a existência do tratamento são norteadas por 173 pareceres internacionais sobre a administração destes medicamentos. Cerca de dois mil médicos em todo o País já assinaram cartas de recomendação sobre o tratamento precoce. Em nota, a Médicos Pela Vida – Covid-19 repudiou a ação da Prefeitura de Curitiba, que “utilizou-se de subterfúgios para uma atitude antidemocrática de patrulhamento ideológico e perseguição a quem pensa diferente e age em defesa da saúde e da vida das pessoas”, considerou. Ainda segundo a associação, Curitiba foi a única cidade cujo Poder Público determinou a retirada do material publicitário, “negando, mais uma vez, o direito à informação, a assistência à saúde e a defesa da vida.”, completou.

A associação é formada por médicos de diversas especialidades e, segundo o seu site oficial, é coordenada pelos pernambucanos Cristiana Altino de Almeida e Antônio Jordão, entre outros médicos. Dentre os profissionais que endossam a utilização do tratamento está o ex-presidente do Sindicato dos Médicos de Londrina, o gastroenterologista Alberto Toshio Oba, que pediu licença da entidade para concorrer ao cargo de vereador pelo PSC (Partido Social Cristão), no ano passado, sem ter sido eleito.