Uma parceria científica entre a UEM (Universidade Estadual de Maringá) e a maringaense Gluco Scan pode ter resultado na criação de uma das mais importantes ferramentas de diagnóstico rápido da Covid-19 já criadas desde o início da pandemia: um software capaz de analisar de forma rápida as informações repassadas por um dispositivo espectrofotômetro de infravermelho usado para examinar a língua. A novidade foi apresentada na manhã desta sexta-feira (18) em uma entrevista coletiva promovida pela instituição. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já foi notificada sobre os resultados das pesquisas.

Da esquerda: Julio Damasceno, Dennis Bertolini, Eniuce Souza e João Garcia
Da esquerda: Julio Damasceno, Dennis Bertolini, Eniuce Souza e João Garcia | Foto: Divulgação UEM

A Universidade Estadual de Maringá foi procurada pela Gluco Scan para validar a metodologia utilizada na criação do software, batizado de SpectroCheck. Depois de ter recebido o aval do Copep (Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com Seres Humanos), da UEM, o estudo clínico foi realizado com 970 pessoas entre os dias 12 e 29 de maio.

De acordo com a universidade, os pesquisadores alcançaram 83,87% de sensibilidade (capacidade de acertar o resultado positivo) e 91,07% de especificidade (capacidade de acertar o resultado negativo) com a utilização do SpectroCheck.

SpectroCheck analisa a língua e resultado sai em 3 segundos; tecnologia inédita no mundo pode ser usada em massa
SpectroCheck analisa a língua e resultado sai em 3 segundos; tecnologia inédita no mundo pode ser usada em massa | Foto: Divulgação UEM

Conforme explicou à FOLHA o professor do Departamento de Análises Clínicas e Biomedicina e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, da UEM, Dennis Armando Bertolini, os resultados positivos das amostras coletadas foram interpretados por profissionais de saúde e submetidos à contraprova em um laboratório de Maringá por meio do exame RT-PCR, já consagrado para diagnosticar a Covid-19.

"Conseguimos fazer com a ajuda de um grande laboratório de análises clínicas e também pudemos ter acesso aos resultados dos exames destes pacientes para fazer a comparação. Tem funcionado muito bem e ainda temos análises para serem feitas para tentar verificar a possibilidade de melhorias neste produto", afirmou.

De acordo com ele, os estudos complementares continuarão a ser realizados com 570 pacientes. "Com certeza poderia auxiliar muito na testagem rápida, sem muito custo e sem ser invasivo. Como não é um teste considerado Padrão Ouro, você consegue encaminhar o paciente para a testagem de forma muito rápida. O efeito é muito importante porque você reduz a transmissibilidade", avaliou.

Para a realização da análise óptica, um aparelho infravermelho é apontado para a língua a uma distância de até dez centímetros. Este dispositivo emite um raio indolor e transforma estas informações em um gráfico digital. “Como a Covid-19, principalmente no início, atinge o trato respiratório superior, o vírus é detectado na boca e, consequentemente, na saliva humana”, justificou Bertolini. Ainda segundo a UEM, o detector coleta amostras espectrais de saliva em uma faixa de comprimento de onda de 740 a 1.070 nanômetros, unidade de medida que equivale à bilionésima parte de um metro.

Gluco Scan notificou SpectroCheck à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 7 de junho como software médico
Gluco Scan notificou SpectroCheck à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 7 de junho como software médico | Foto: Divulgação UEM

Os resultados do rastreamento ficam integrados à memória do aparelho, que cabe na palma da mão e tem tecnologia bluetooth, o que facilita a transmissão de dados a nuvens, computadores e smartphones. No entanto, dispositivos já existentes e disponíveis no mercado também poderão ser utilizados para esta finalidade, informou a Gluco Scan.

Imagem ilustrativa da imagem Após parceria com a UEM, empresa lança teste rápido para a Covid-19
| Foto: Divulgação Gluco Scan

Para o diretor de Desenvolvimento e Pesquisa do SpectroCheck, João Otávio Sedovski Garcia, a principal vantagem da ferramenta é permitir a realização da testagem em massa. À FOLHA, Garcia explicou que a empresa maringaense deu início às pesquisas sobre o uso e aplicação do software com o mapeamento de outras doenças, como a dengue e na investigação da presença do vírus H1N1. Porém, com o avanço da pandemia da Covid-19 e a percepção de que havia uma lacuna no mercado, a empresa, que tem pouco mais de um ano de criação, decidiu direcionar as pesquisas.

Questionado sobre a expectativa para o início da comercialização da tecnologia, Garcia explicou que a Gluco Scan já notificou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e aguarda a aprovação do órgão, o que deve ocorrer "o mais breve possível", avaliou.

"Há uma gerência na Anvisa que faz a análise deste tipo de equipamento e softwares médicos. Aguardamos a análise e a expectativa é promissora. Haja vista o avanço da pandemia, acreditamos que será aprovado o mais breve possível", estimou. A notificação ao órgão foi realizada no dia 7 de junho.

Ainda segundo o diretor, a Gluco Scan pretende distribuir a tecnologia de forma horizontal. Ele não revelou qual será o custo para o licenciamento do software, mas avaliou que o valor será baixo.