Por 70 anos, o alfaiate Antônio Ezídio da Silva foi o responsável pelos ternos impecáveis de muitos londrinenses. O ofício era exercido com amor e afinco pelo homem que deixou a lavoura para se dedicar a uma profissão mais “leve”. No último sábado (27), as mãos habilidosas que desenhavam os moldes e cortavam os tecidos que seriam transformados em trajes de ajuste perfeito cessaram para sempre o trabalho. Aos 83 anos, Ezídio partiu deixando saudades na esposa, Dirce, com quem foi casado por 60 anos, nos oito filhos, oito netos e nove bisnetos.

Imagem ilustrativa da imagem Com 70 anos de dedicação à alfaiataria, morre Antônio Ezídio da Silva
| Foto: Gina Mardones 31-05-2011

Ezídio nasceu no sul de Minas Gerais, mas foi criado em Londrina. Costumava dizer que Minas era um lugar bom para nascer. Chegou ao Norte do Paraná em 1943, trabalhador rural, mas incentivado pelo pai, aos 13 anos iniciou os conhecimentos no universo da alfaiataria. “Meu avô disse que ele iria aprender uma nova profissão e, se não aprendesse, voltaria para a roça”, conta o filho Valter Luiz Silva.

Animado com a possibilidade de deixar definitivamente para trás a vida árdua no campo, Ezídio empenhou-se tanto no aprendizado que se tornou uma referência no seu ofício. Instalou-se no Edifício Autolon, uma das construções verticais mais antigas da cidade.

Em sua busca constante por aperfeiçoamento, característica que sempre o acompanhou na profissão, viajava aos sábados para Belo Horizonte para aprender todos os segredos de um bom corte. Voltava a Londrina no domingo e, nas manhãs de segunda-feira, lá estava ele de novo com a fita métrica, o giz e a tesoura em punho colocando em prática os ensinamentos.

VÁRIAS GERAÇÕES

“Ele sempre se interessava em aprender mais. Quando a gente pensava que ele já tinha aprendido tudo, estava aprendendo mais. Meu pai costurava no corpo da pessoa. Cada medida era única”, recorda Valter. O esmero nos detalhes lhe rendeu clientes importantes. Das famílias tradicionais londrinenses a políticos de grande notoriedade, todos passaram pelas mãos precisas e o olhar apurado de Ezídio. “Entre os clientes, estavam empresários, governadores, juízes, prefeitos, advogados. Meu pai atendeu várias gerações de uma mesma família. Ele viajava até Campinas (SP) para atender um juiz.”

Imagem ilustrativa da imagem Com 70 anos de dedicação à alfaiataria, morre Antônio Ezídio da Silva
| Foto: Olga Leiria

O mesmo zelo que Ezídio dispensava aos seus clientes também era dispensado aos familiares. Se como profissional sua conduta era irrepreensível, como pai deixou um legado de muito amor. “Sempre foi muito parceiro”, emociona-se Valter. Além dos cinco filhos biológicos, criou três sobrinhos a quem considerava filhos e um neto. “Era uma pessoa humilde, sempre fez o que Jesus Cristo falou. Veio ao mundo para servir. A missão dele foi bem cumprida aqui. Meu telefone está carregado de mensagens que nunca pensei que fosse receber. Pessoas que nem conheço. Meu pai era muito querido.”

Ezídio trabalhou em seu ateliê até 2018. A partir de então, os filhos montaram um novo ateliê na chácara onde o alfaiate vivia e era lá que ele ainda recebia algumas encomendas de seus clientes mais fiéis. “Os clientes mais tradicionais ainda iam até a chácara”, comentou o filho.

Ezídio foi internado com insuficiência respiratória e faleceu no sábado. O resultado do exame deu negativo para Covid-19.

Atualizado em 22/07/2020