O Brasil produz mais de 11 milhões de toneladas de lixo plástico por ano. É o que aponta o relatório "Solucionar a poluição plástica - Transparência e responsabilização", produzido pelo WWF (sigla em inglês para Fundo Mundial para a Natureza). Conforme o estudo, o País ocupa a quarta colocação na geração de lixo plástico e perde apenas para os Estados Unidos (com 70,8 milhões), a China (com 54,7 milhões) e a Índia (com 19,3 milhões).

Além da produção desenfreada, apenas 1,2% do plástico gerado no Brasil é reciclado, índice abaixo da média global de 9%. O levantamento alerta que o baixo custo e a versatilidade do material intensificaram a produção nos últimos anos e, consequentemente, houve redução nos preços para a venda do volume coletado pelos recicladores.

Estudos citados pela ONG revelam que cerca de um terço de todo o material descartado no mundo retornou à natureza poluindo o ecossistema, o que representa 100 milhões de toneladas de lixo por ano. O prejuízo é estimado US$ 8 bilhões ao ano na pesca, no comércio marítimo e no turismo. O cálculo foi feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. No entanto, pesquisas apontam que a poluição em terra é quatro vezes maior que nos oceanos.

"Nosso método atual de produzir, usar e descartar o plástico está fundamentalmente falido. É um sistema sem responsabilidade e, atualmente, opera de uma maneira que praticamente garante que volumes cada vez maiores de plástico vazem para a natureza", afirmou o diretor-geral do WWF-Internacional, Marco Lambertini, à assessoria de imprensa da ONG.

Até 2030, mais de 9 milhões de toneladas métricas de resíduos plásticos devem chegar a cada ano aos mares. Ainda de acordo com o relatório, só em 2016, a produção mundial de plástico foi de 396 milhões de toneladas métricas, o que corresponde a 53 quilos de plástico por pessoa ou mais de 2,2 mil garrafas plásticas de água para cada ser humano.

De acordo com o relatório produzido pela WWF, parte desse tipo de lixo descartado no meio ambiente chega a ser ingerida por quem consome frutos do mar e até água engarrafada contaminada por micro e nanoplásticos. Ainda não se sabe de que forma o consumo afeta a saúde da população. Os principais responsáveis pela produção de plástico em produtos são a indústria de embalagens, a indústria da construção e a indústria automotiva.

Entre as soluções apontadas pela ONG estão a criação de um tratado internacional para acabar com o despejo de plásticos nos oceanos; a implantação de metas nacionais de reciclagem e controle do produto; o incentivo à reutilização e transformação de plásticos já descartados para reduzir o impacto ambiental; a criação de políticas integradas entre poder público, indústrias e sociedade civil; a responsabilização dos produtores de plástico; o monitoramento e controle dos itens descartados; um plano de gestão adequado para Estados e municípios e a conscientização de todos para a redução no consumo de plástico.

Para a geógrafa e analista técnica da CNM (Confederação Nacional de Municípios), Cláudia Lins, é necessário descentralizar as indústrias de reciclagem do País, responsabilizar as empresas pela geração dos resíduos por meio da chamada logística reversa e adotar incentivos tributários para o funcionamento da coleta seletiva nos municípios. "Melhorando o cenário da reciclagem, os gestores vão conseguir, por exemplo, encaminhar melhor os produtos para a reciclagem. Infelizmente, a coleta seletiva está ligada ao mercado. Se o município não tem indústria de reciclagem em uma região próxima, ele não tem o que fazer e o que era resíduo reciclável acaba virando rejeito devido à ineficiência do mercado de reciclagem, devido à inoperância da logística reversa no País", argumentou.

Para a analista técnica, que também é doutoranda em gestão ambiental e territorial pela UnB (Universidade de Brasília), as prefeituras deveriam receber repasses financeiros da União para estruturar e manter o serviço de coleta seletiva. "O que a gente também precisa ter urgente e finalizado é o Plano Nacional de Resíduos Sólidos porque a União não tem plano até hoje. Ela terminou em 2012 uma versão prévia que iria para consulta pública, mas que nunca foi aprovada e nunca se transformou como um decreto. Fica um alerta para que esse plano traga metas e instrumentos que de fato possam contribuir para o avanço da reciclagem e da coleta seletiva no País", acrescentou.

Dados disponíveis no documento "Perfil do Município de Londrina 2018" revelam que 8,8 mil toneladas de recicláveis foram comercializadas em 2017 pelas sete cooperativas que atuam na cidade. Porém, não há a estimativa do volume de materiais que deixou de ser coletado no período e os motivos para a destinação incorreta.

Nilsa de Brito, presidente da Cooperoeste, uma das cooperativas que atuam na cidade, afirma que a falta de conscientização por parte da população na separação dos resíduos ainda é uma das principais dificuldades enfrentadas na hora da coleta. "Quando a prefeitura dava sacos verdes para os moradores, as pessoas reciclavam mais. Agora estão reciclando menos e, algumas vezes, jogam tudo misturado. Os condomínios têm se organizado melhor, mas ainda é difícil", relatou.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização), responsável pela gestão dos recicláveis em Londrina, mas, em razão do carnaval, ninguém foi encontrado para comentar o assunto.