Miami, 06 (AE-ANSA) - Furiosos com a decisão da véspera do Serviço de Imigração e Naturalização dos Estados Unidos (INS, pelas iniciais em inglês) - de devolver a Cuba o garoto cubano Elián González, de seis anos -, ativistas cubano-americanos protestaram nesta quinta-feira (06) em Miami com ações de desobediência civil que conturbaram a vida dos moradores da cidade.
Os manifestantes, integrantes de grupos anticastristas acusados de promover ações de terrorismo e provocação contra a ilha, bloquearam o tráfego em vários pontos da cidade e a entrada do Porto de Miami. Pelo menos 10 ativistas foram presos e vários deles multados.
Na Dolphin Expressway, por exemplo, uma das principais vias expressas de Miami, dois motoristas cubanos foram multados em US$ 85 por dirigir suas picapes a 15 quilômetros por hora, irritando os moradores da cidade.
"Temos chamado toda a comunidade de Miami a entender quanto essa questão é delicada", disse o presidente do grupo anticastrista Movimento Democracia, Ramón Saúl Sánchez. "Infelizmente, temos sido obrigados a usar essas táticas porque o presidente (Bill Clinton) não está interessado em entendê-la."
Elián González foi um dos três únicos sobreviventes de um naufrágio no qual morreram sua mãe dele, seu padrasto e outros nove cubanos que tentavam entrar ilegalmente nos Estados Unidos.
O garoto foi resgatado na frente de Fort Lauderdale em 25 de novembro, onde chegou boiando numa câmara-de-ar, e sua custódia foi entregue provisoriamente a tios-avôs em Miami.
Mas o pai de Elián, Juan Miguel González, empregado de um hotel no balneário cubano de Varadero, exigiu o retorno do garoto - assegurando que não tinha autorizado a ex-mulher a tirar seu filho de Cuba.
Após uma guerra de palavras que durou mais de um mês entre o governo cubano e os líderes anticastristas - que tinham convertido o garoto num "símbolo de resistência ao comunismo", exibindo-o na tevê e em anúncios de jornal com uniforme de entidades políticas cubano-americanas -, o INS reconheceu o direito do pai de Elián de tê-lo de volta.
Os advogados do lobby cubano-americano queriam que fosse concedido ao menor o benefício do asilo político, sob a alegação de que ele poderia sofrer sanções por parte do regime de Fidel Castro, caso voltasse a Cuba.
Com base nesse argumento, queriam que a secretária de Justiça, Janet Reno, anulasse a decisão do INS. "Tomando como base as informações que tenho até agora sobre o caso, não vejo nenhuma razão para revogar essa decisão", declarou Reno, em Washington.
"É preciso pensar em termos humanitários. Trata-se de um garoto de seis anos que tem no pai o único parente direto que lhe resta. As investigações feitas pelo INS e pelo Departamento de Justiça em Cuba constataram que o senhor González é o verdadeiro pai de Elián, sempre manteve com ele uma real relação de pai e não está agindo sob pressão de quem quer que seja."
Em Cuba, o governo pediu à população que não pare com as grandes manifestações de rua pelo retorno de Elián até que o garoto efetivamente pise em solo cubano. Pela decisão do INS, ele deve voltar a Cuba até quinta-feira.
Em Cárdenas, pequeno povoado perto de Varadero, onde moram o pai e os avôs maternos de Elián, festejou-se quarta-feira à noite, nas ruas, o anúncio do INS.