São Paulo, 01 (AE) - Antarctica e Brahma distribuiram hoje à tarde um comunicado sobre o parecer da Secretaria de Direito Econômico (SDE) à fusão que cria a AmBev. Veja a íntegra.
"Antarctica e Brahma contestam as restrições impostas pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) à associação entre as duas empresas para a criação da AmBev - Companhia de Bebidas das Américas. O parecer da secretaria, divulgado hoje, dia 31 de janeiro, aprova a fusão, mas recomenda a venda de todos os ativos de um dos principais negócios das companhias no mercado de cerveja - seja ele Antarctica, Brahma ou Skol.
A AmBev não aceita a sugestão e acredita que a restrição será revista pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) na fase decisiva do processo de análise, uma vez que a eliminação de uma das marcas de cerveja tornaria a AmBev menor do que a Brahma antes da fusão. Além disso, ao recomendar a venda de ativos tangíveis (fábricas) e intangíveis (marca), para um único comprador, a SDE incentiva a entrada de um grupo estrangeiro, pela inexistência de empresas nacionais com capital suficiente para adquirir e manter um negócio desse porte.
Para a AmBev, a venda de um dos negócios de cerveja é uma atitude desnecessária e sem sustentação técnica para a manutenção da livre concorrência de mercado e extremamente prejudicial aos objetivos que levaram Brahma e Antarctica a se associarem. A retirada de uma das três marcas de cerveja do conjunto da AmBev impede a empresa de conquistar os ganhos de sinergia que permitiriam reduzir preços e ainda competir no mercado internacional, em posição de igualdade frente aos grandes grupos da indústria de bebidas.
Parte desses ganhos seriam repassados ao consumidor, com a redução de preços, conforme a empresa vem enfatizando desde o anúncio da associação. Os dirigentes da AmBev ressaltam que não há qualquer possibilidade de aumentos de preços, inclusive nas regiões em que as marcas Brahma, Antarctica e Skol detenham a liderança, mesmo porque isso representaria perda de mercado.
O objetivo da associação que originou a AmBev é constituir uma empresa forte, com capacidade de geração de caixa e um portfólio de produtos completo, capaz de lutar por maiores fatias no mercado internacional de bebidas. A venda de um dos principais negócios impossibilita a realização dessa meta, assim como a formação da quinta maior companhia de bebidas do globo. Essa atuação não se dá necessariamente pela exportação de produtos, mas também por aquisições, associações ou acordos de produção e distribuição em diferentes países.
Com a associação entre Antarctica e Brahma, as duas empresas contabilizariam redução de custos anuais da ordem de R$ 500 milhões, cifra cerca de 40% superior ao lucro somado das duas companhias em 1998. Sem parte desses recursos as empresas não poderão financiar seu processo de expansão no mercado externo e fugir do elevado custo do dinheiro no mercado local. Vale lembrar que enquanto empresas de grande porte conseguem no Brasil financiamentos a juros mínimos de 15% anuais, no exterior empresas são financiadas ao custo de 6% ao ano. Esse fato é, reconhecidamente, o maior entrave à internacionalização das empresas brasileiras.
Em seu parecer, a SDE não levou em conta dois aspectos do mercado de cervejas: a baixa fidelidade do consumidor às marcas e o crescimento contínuo da participação das marcas de baixo preço. Segundo pesquisa Nielsen/CPBA (1999), apenas 12,7% dos consumidores chegam aos pontos de venda para comprar cerveja de uma marca já definida, sendo o preço um dos fatores mais determinantes na escolha do produto. Quando o preço aumenta, faixas de consumidores tendem a procurar marcas de preço mais baixo. O comportamento do mercado nos últimos 12 anos comprova essa situação. Em 1988, também de acordo com dados Nielsen, as marcas de preço menor representavam 9,9% do mercado brasileiro. Hoje, atingem 27,9%. Essa infidelidade às marcas torna muito pequena a capacidade de os produtores de cerveja ditarem aumentos de preços ou adotarem outras práticas de mercado monopolistas e anticoncorrenciais.
O parecer da SDE é a segunda de três análises que vêm sendo realizadas por órgãos do governo encarregados de avaliar a associação entre as duas companhias. Assim como o parecer da Secretaria Especial de Acompanhamento Econômico (Seae), divulgado em 11 de novembro, é uma recomendação meramente opinativa, cabendo a decisão final ao Cade. Durante os sete meses de análise do processo, a AmBev acatou todas as resoluções dos órgãos do governo. A empresa tem plena convicção de que o parecer final sobre a associação será favorável e não trará restrições que inviabilizem a fusão.
"O Cade tem uma visão moderna da dinâmica da economia globalizada e acreditamos que saberá entender as vantagens representadas pela AmBev para o desenvolvimento da economia brasileira, do mercado de trabalho e para o consumidor", afirmam Marcel Telles e Victório De Marchi, co-presidentes do Conselho de Administração da AmBev.