Quando completou nove décadas, no dia 17 de junho de 2019, Suma Sassaki Hiruo pôde comemorar ao lado do marido, Sussumu Hiruo, 92, dos cinco filhos, 13 netos e seis bisnetos sem qualquer tipo de preocupação. Nem mesmo em seus pensamentos mais profundos, a “batian” da família Hiruo poderia imaginar que teria que viver isolada em casa por fazer parte do grupo risco em uma pandemia causada por um vírus invisível e transportado pelo ar. Menos ainda que pequenas celebrações em família estariam proibidas por um decreto municipal.

Familiares puderam demonstrar o amor e a gratidão que sentem pela batian enquanto trafegavam em frente à residência
Familiares puderam demonstrar o amor e a gratidão que sentem pela batian enquanto trafegavam em frente à residência | Foto: Gustavo Carneiro

Entretanto, a partir da criatividade dos filhos e netos, o dia tornou-se especial em frente à casa em que mora há mais de 50 anos, na Vila Nova, região central de Londrina, local em que cultiva a babosa, o gengibre e o mamão que a ajudam a manter a saúde em dia. Organizados em uma carreata, os familiares puderam demonstrar o amor e a gratidão que sentem pela batian enquanto trafegavam em frente à residência. Em frente de casa, apenas um neto e duas filhas fizeram a distribuição de lembranças, sempre munidos de álcool em gel e máscaras. A homenagem ficou completa com as músicas preferidas da idosa tocadas em um carro de som.

“Nós procuramos animar. Ela gosta muito de cantar, mas ultimamente está ficando meio deprimida. Mas ela foi ao médico e o doutor disse que ela tem que cantar mais porque faz bem para coração e ela ficou meio assim, então acho que ela vai voltar a cantar de novo”, estimou uma das filhas, Regina Hiruo, 65.

Nascida em 1929, em Registro, no interior de São Paulo, dona Hiruo mudou-se para Londrina ainda jovem, após a morte da mãe. Morando com uma tia, a jovem conheceu o atual marido e juntos foram viver da terra em um sítio, na região de Ibiporã. Anos mais tarde e já com cinco filhos, um novo retorno a Londrina marcou a história da família e por conta de um objetivo muito especial, contou a filha Regina. “Ela sempre falou ‘vocês têm que estudar’. Morávamos no sítio e ela quis vir morar na cidade para nós continuarmos os estudos”, conta orgulhosa.

Em uma Londrina da década de 1960, uma lembrança que vem à mente da filha é caminhar de mãos dadas com a mãe desde o endereço residencial, na avenida Duque de Caxias, até o Colégio Estadual Nilo Peçanha, na rua Araguaia. Uma “noção” de distância muito diferente da dos dias de hoje. Os sonhos e os objetivos de vida também eram outros, muito mais voltados ao sucesso de toda a família em detrimento do individual. “Ela tem muita humildade, quer o bem de todo mundo. Acho que é isso que faz ela se tornar uma pessoa especial”, conta a filha.

Em dezembro deste ano, dona Suma e seu Sussumo pretendem comemorar as Bodas de Zinco ao completarem 71 anos de casados. A festa da maneira “tradicional” já foi cancelada e deve dar espaço a um novo modelo de celebração que se enquadre na realidade forçada pela pandemia.