Angolanos são vítimas de racismo
PUBLICAÇÃO
sábado, 12 de fevereiro de 2000
Agência Estado
Do Rio
O procurador da República, Paulo Tadeu Gomes Silva, afirmou ontem que a falsa acusação de que angolanos residentes nas favelas do Complexo da Maré, no Rio, ensinavam técnicas de guerrilha a traficantes caracteriza uma situação de preconceito. A denúncia surgiu depois da chacina de seis pessoas na favela, há oito dias.
Ontem, Gomes Silva e o procurador Daniel Sarmento tomaram o depoimento do diretor social da Associação de Angolanos do Rio de Janeiro, Francisco Cruz, e admitiram a possibilidade de ingressar com ações coletivas por perdas e danos.
Já o diretor da associação disse que a revolta da comunidade só será aplacada quando o governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), fizer um pedido de desculpas público. Para Cruz é inaceitável a declaração do governador, que afirmou não considerar necessário um pedido de desculpas, exigido pelo Consulado de Angola, porque, em sua opinião, não houve constrangimento ilegal e nem arbitrariedades durante a operação da polícia no Complexo da Maré.
Quando ele diz que é normal este tipo de atitude, existe por trás disso um preconceito racial e social, comentou Cruz.
O procurador Daniel Sarmento fez questão de ressaltar, no entanto, que o fato de o governador pedir desculpas não significa que a Procuradoria vá encerrar as investigações do inquérito civil público aberto no dia 9.
De acordo com Sarmento, dependendo do que for levantado, podem ser instauradas ações coletivas por danos morais. A procuradoria pode buscar regularizar a situação dos refugiados ou, se ficar configurado ilícito penal, podemos encaminhar o caso, observou.
Sarmento também acha que a questão de racismo deve ser investigada. Se os imigrantes fossem dinamarqueses de olhos azuis, o tratamento, certamente, seria outro, comentou.
Cruz disse que a colônia angolana quer que este episódio sirva de exemplo para outras situações. Nós só fomos tratados dessa maneira por sermos africanos e negros, disse. Queremos igualdade de tratamento para todos os refugiados.

