Agência Estado
Do Rio
O procurador da República, Paulo Tadeu Gomes Silva, afirmou ontem que a falsa acusação de que angolanos residentes nas favelas do Complexo da Maré, no Rio, ensinavam técnicas de guerrilha a traficantes caracteriza uma situação de preconceito. A denúncia surgiu depois da chacina de seis pessoas na favela, há oito dias.
Ontem, Gomes Silva e o procurador Daniel Sarmento tomaram o depoimento do diretor social da Associação de Angolanos do Rio de Janeiro, Francisco Cruz, e admitiram a possibilidade de ingressar com ações coletivas por perdas e danos.
Já o diretor da associação disse que a revolta da comunidade só será aplacada quando o governador do Rio, Anthony Garotinho (PDT), fizer um pedido de desculpas público. Para Cruz é inaceitável a declaração do governador, que afirmou não considerar necessário um pedido de desculpas, exigido pelo Consulado de Angola, porque, em sua opinião, não houve constrangimento ilegal e nem arbitrariedades durante a operação da polícia no Complexo da Maré.
‘‘Quando ele diz que é normal este tipo de atitude, existe por trás disso um preconceito racial e social’’, comentou Cruz.
O procurador Daniel Sarmento fez questão de ressaltar, no entanto, que o fato de o governador pedir desculpas não significa que a Procuradoria vá encerrar as investigações do inquérito civil público aberto no dia 9.
De acordo com Sarmento, dependendo do que for levantado, podem ser instauradas ações coletivas por danos morais. ‘‘A procuradoria pode buscar regularizar a situação dos refugiados ou, se ficar configurado ilícito penal, podemos encaminhar o caso’’, observou.
Sarmento também acha que a questão de racismo deve ser investigada. ‘‘Se os imigrantes fossem dinamarqueses de olhos azuis, o tratamento, certamente, seria outro’’, comentou.
Cruz disse que a colônia angolana quer que este episódio sirva de exemplo para outras situações. ‘‘Nós só fomos tratados dessa maneira por sermos africanos e negros’’, disse. ‘‘Queremos igualdade de tratamento para todos os refugiados.’’