Coloca o casaco, tira o casaco. Nos últimos dias, essa tem sido a rotina dos londrinenses que acordam com temperaturas baixas, na casa dos 10° C, e, conforme o dia passa, precisam lidar com o sol forte. E tudo indica que esta quinta-feira (18) irá seguir o mesmo roteiro, com mínima de 10° C e máxima de 24° C.

Vera Lúcia Martins diz que os últimos dias têm sido gelados, mas que é possível se acostumar com a variação de temperatura
Vera Lúcia Martins diz que os últimos dias têm sido gelados, mas que é possível se acostumar com a variação de temperatura | Foto: Douglas Kuspiosz

A variação de temperatura ao longo do dia, que bagunça a escolha do vestuário e pode trazer problemas de saúde, é chamada de amplitude térmica. Nesta semana, essa diferença entre a temperatura mínima e máxima tem chegado à casa dos 15° C em Londrina.

O meteorologista Paulo Ricardo Bardou Barbieri, do Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) explica que essa é uma característica normal desta época do ano.

“Essa semana vai continuar. Até o fim de semana tem essa massa de ar frio sobre o estado, então seguem essas temperaturas mais amenas no amanhecer, e à tarde, com o sol predominando, as temperaturas sobem. Deve ser mantida característica até o fim da semana”, apontou Barbieri.

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A previsão do Simepar indica, para sexta-feira (19), mínima de 10° e máxima de 25°C; a mínima no sábado (20) deve chegar a 11° C, com máxima de 25° C. No domingo (21), a mínima deve subir, chegando aos 13° C, ao passo que a máxima pode atingir 25° C. As condições climáticas mudam na segunda-feira (22), com chance de chuva e redução na amplitude térmica.

Na sequência, a tendência é uma gradual queda nas temperaturas, já antecipando a entrada do inverno. “Tanto é que à tarde já não é tão quente como vinha ocorrendo. Isso é característica dessa transição do período quente para o frio”, pontuou.

O otorrinolaringologista Marco Aurélio Fornazieri, que atua no HU (Hospital Universitário) e é professor de otorrinolaringologia da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e da PUC (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), explicou que a grande amplitude térmica pode causar problemas como resfriados, gripes e infecções respiratórias, além de desencadear sintomas em pessoas com doenças respiratórias pré-existentes.

“Dores de cabeça, enxaquecas e distúrbios do sono também podem ocorrer. As mudanças bruscas de temperatura podem afetar o coração, aumentando a pressão arterial, por exemplo”, explicou.

Para minimizar os sintomas, algumas medidas indicadas pelo médico são manter-se hidratado e usar agasalho para se proteger das baixas temperaturas. A utilização de umidificadores também é recomendada, assim como o consumo de alimentos e bebidas quentes, como sopas e chás. O uso de hidratantes para a pele pode ajudar.

“Nessas condições de mudanças bruscas de temperatura, é importante procurar assistência médica caso se esteja tossindo muito, tendo dificuldade para respirar, sentindo chiado no peito e apresentando manchas avermelhadas na pele”, listou o médico. “Se já se teve alergias graves no passado, como anafilaxia, ou não se estiver controlando os sintomas com as medidas ditas acima, também é importante buscar o pronto-socorro.”

Allex Ogawa, médico especialista da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial), explica que o corpo humano suporta bem variações de até 8° C, e, como a temperatura corporal geralmente é maior que a do ambiente, as variações para o frio são piores para a saúde.

“É no frio que a gente começa a ter algumas respostas em relação a essa variação, que é como se o corpo não funcionasse do jeito que deveria funcionar, e os sintomas começam a aparecer”, explicou Ogawa.

O médico aponta que um dos mecanismos que podem ser afetados no frio é o batimento mucociliar, que diz respeito aos “pelinhos” que estão nas mucosas e ajudam a retirar resíduos das vias respiratórias. Um choque térmico pode afetar esse funcionamento e forçar o corpo a produzir mais secreção. “É muito comum nesse período de frio, de amplitude e mudança rápida, as pessoas começarem a ter muita coriza, por exemplo”, acrescentou.

Segundo o médico, as alergias são mais comuns no período de outono e inverno, mas não existe alergia às mudanças climáticas. Uma forma de identificar se uma rinite, por exemplo, é alérgica ou irritativa, é prestar atenção no tempo dos sintomas.

No caso da rinite alérgica, os sintomas podem aparecer de 30 minutos a uma hora após o contato com o alérgeno - que pode ser ácaro, gramínea, fungo, pelo de animal etc -; já na outra situação, a resposta do corpo é imediata.

“Assim como a gente tem uma resposta imediata quando muda de ambiente, vai de um ambiente com uma temperatura para um mais gelado, e aí imediatamente a gente tem os sintomas de espirro, coceira como uma resposta irritativa a esses agressores”, pontuou.

As infecções são mais comuns no inverno porque, durante o tempo mais seco, os vírus ficam mais tempo em suspensão. Além disso, há uma tendência à aglomeração em ambientes fechados e, quando alguém está gripado ou resfriado, os sintomas irritativos ajudam a disseminar os vírus.

“Não gosto, eu prefiro o tempo mais quente. Muito frio eu não gosto, não”, diz o trabalhador rural José Manoel da Silva
“Não gosto, eu prefiro o tempo mais quente. Muito frio eu não gosto, não”, diz o trabalhador rural José Manoel da Silva | Foto: Douglas Kuspiosz

Vera Lúcia Martins, 66, conta que os últimos dias têm sido gelados, mas que é possível se acostumar com as temperaturas variando. “Ainda mais eu que tenho problema de bronquite, então é um perigo. Estou com a blusinha, uma meia estação: esquentou, arregaça a 'bichinha' para cima, esfriou, abaixa. Tem que estar preparada para tudo”, brincou.

O trabalhador rural José Manoel da Silva, 70, diz que no campo faz ainda mais frio que na cidade. “Não gosto, eu prefiro o tempo mais quente. Muito frio eu não gosto, não”, ressaltando que mora há 60 anos em Londrina, tempo de sobra para se acostumar com as temperaturas mais elevadas da cidade.

E com a variação das temperaturas, fica difícil saber se vai precisar de roupa de frio ou não. “À tarde já está calor. Não dá pra saber [se leva uma blusa de frio ou não]”.