Roma, 21 (AE-ANSA) - O presidente italiano, Carlo Azeglio Ciampi, encarregou hoje (21) o socialista Giuliano Amato de formar o 58º governo italiano do pós-guerra. Ao fim de uma reunião de duas horas com Ciampi no Palácio do Quirinale (sede da presidência), Amato disse que aceitava a indicação presidencial.
"Vamos constituir em breve o novo gabinete, que terá um número bastante reduzido de ministros e secretários."
Para formar o novo governo, Amato consultará neste fim de semana os dirigentes da coalizão de centro-esquerda - do primeiro-ministro demissiorário, o ex-comunista Massimo DAlema - que já lhe garantiu integral apoio no Parlamento.
A frente governamental dispõe de escassa maioria na Câmara: 322 cadeiras - 7 a mais do número exigido pelo regimento interno. "Meu governo deverá chegar até o fim da legislatura (abril de 2001, mês em que serão realizadas as eleições gerais italianas)", acrescentou o líder socialista que pretende também preparar o referendo de 21 de maio, quando os italianos vão se pronunciar sobre importantes reformas eleitorais.
"A Itália necessita de mais competitividade, mais coesão social, mais segurança, e mais justiça", destacou ao prometer buscar o estabelecimento de um diálogo com a oposição.
Vencedora das eleições regionais de domingo que lhe deram o controle das áreas mais ricas e populosas do país, os conservadores do Pólo da Liberdade, liderados pelo magnata Silvio Berlusconi, exigiam a antecipação das eleições gerais, classificando de "ilegítimo" qualquer governo que viesse a ser constituído com apoio do centro-esquerda.
"O cenário político italiano mudou completamente", insistiu Berlusconi em sua reunião com Ciampi, tentando, sem êxito, convencê-lo a antecipar as eleições. No dia anterior, quando a frente esquerdista fechou questão em torno do nome Amato, Berlusconi qualificou o líder socialista de "idiota útil".
Hoje, oficializada a indicação do nome dele para a chefia do novo governo, o milionário conservador procurou explicar a indelicadeza: "Quando disse aquilo não estava me referindo à pessoa de Amato, brilhante sob todos os aspectos, mas ao papel de chefe de um governo sem legitimidade popular, controlado pelas esquerdas."
Amato ressaltou que tem intenção de submeter seu gabinete a Ciampi e ao Parlamento já no início da próxima semana.
Ministro do Tesouro desde maio de 1999, Giuliano Amato, de 61 anos, já ocupou a chefia do governo italiano por nove meses em 1992 - nos tormentosos anos da chamada Operação Mãos Limpas (contra a corrupção na administração pública), que acabou com uma hegemonia de quase meio século da democracia-cristã e mudou a face político partidária da Itália.
Ele foi um dos raros integrantes da chamada velha guarda política que apresentavam uma ficha completamente limpa. Isso apesar de ter sido um estreito colaborador de Bettino Craxi, o grande líder socialista italiano que morreu no exílio arrolado em pelo menos 30 processos por corrupção, fraude e enriquecimento ilícito.
Jurista e economista, Amato é apontado como um dos principais responsáveis pelo saneamento das finanças italianas. Quando ele ocupou o poder em 1992, impôs ao país uma política econômica de grande austeridade, com um corte de despesas de cerca de US$ 40 bilhões.
Isso permitiu ao país aderir ao euro - moeda única da União Européia (UE). Ele ganhou notoriedade internacional e seu nome chegou a ser indicado para chefiar a Comissão Européia (executivo da UE) e também dirigir o Fundo Monetário Internacional, em substituição ao francês Michel Camdessus.
Conhecido como "Dr. Sottile" (Dr. Sutil), pela forma delicada e inteligente como resolve as questãos mais intrincadas
Amato é autor de vários livros e ensaios sobre política e economia.