Aids, a principal doença do século
PUBLICAÇÃO
sábado, 01 de janeiro de 2000
Agência Estado
De São Paulo
Quando em 1981 apareceram nos Estados Unidos os primeiros casos de uma nova doença, que depois ficou conhecida como aids (sigla em inglês de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), ninguém poderia imaginar que esta seria a principal doença do século. Inicialmente restrita a grupos de risco, como o de homossexuais e usuários de drogas injetáveis, a aids mostrou, nos últimos anos, que é um mal capaz de atingir todas as faixas etárias e grupos sociais.
Segundo relatório das Nações Unidas, há hoje cerca de 33,6 milhões de pessoas infectados pelo vírus HIV (vírus da imunodeficiência adquirida), sendo 14,8 milhões de mulheres e 1,2 milhão de crianças. Somente ano passado, mesmo com novos medicamentos promissores e com campanhas educativas, surgiram 5,6 milhões de novos casos.
O vírus infecta o organismo através do sangue e do esperma, minando o sistema imunológico e abrindo espaço para doenças oportunistas como pneumonia, meningite, hepatite, toxoplasmose e alguns tipos de câncer. O HIV também está presente em menor quantidade na secreção vaginal e no leite materno.
O relatório da ONU deixa evidente a pauperização e a terceiro-mundização da aids, por razões óbvias: os que possuem menos recursos e informação acabam se expondo mais ao contágio. Hoje, 95% das pessoas com HIV vivem nos países em desenvolvimento, 70% delas na África, o continente mais atingido.
Quase a metade das pessoas que contrai o vírus é infectada antes dos 25 anos e geralmente morre antes de completar 35. Este fato é especialmente dramático para as crianças: a aids já deixou um total acumulado de 11,2 milhões de órfãos que perderam suas mães antes dos 15 anos.
Além de órfãs, as crianças tampouco são poupadas pelo vírus. A Unaids, programa das Nações Unidas, estima que 570 mil crianças foram infectadas só neste ano. Mais de 90% delas foram infectadas pela própria mãe na hora do parto ou por meio da amamentação. Apesar de a transmissão do HIV da mãe para o feto ser facilmente evitada, nos países pobres ela continua acontecendo.
Ainda segundo o relatório, desde o começo da epidemia cerca de 50 milhões de pessoas foram contaminadas em todo o mundo. Só em 99, mais de 2,6 milhões de pessoas morreram de aids. A taxa é a maior registrada desde que começou a epidemia. Segundo o diretor-executivo da Unaids, Peter Piot, a epidemia está longe de ser debelada. Na realidade, o problema está crescendo.
A medicina ainda não dispõe de recursos para curar a doença, mas ela pode ser postergada, talvez para muito longe. Há medicamentos que conseguem evitar que algumas pessoas manifestem os sintomas da aids. Os chamados coquetéis, associação de drogas antivirais e uma inibidora de protease (enzima atuante na fase final de reprodução do vírus), representaram uma mudança radical no tratamento, permitindo um aumento da sobrevida de vários pacientes, que conseguem ter uma vida normal.
Mesmo sem ousar prever quando o vírus será derrotado, os pesquisadores que se debruçam sobre o HIV em todo o mundo concordam que o cerco a ele caminha satisfatoriamente. Os esforços hoje concentram-se em duas frentes: a pesquisa de possíveis vacinas contra o vírus e novas drogas para o tratamento dos soropositivos.
Prevenir para deter o avanço é a única medida reconhecida entre os especialistas. Portanto, a melhor forma de evitar o contágio pelo HIV continua sendo a prevenção através do uso de camisinha, seringas descartáveis e as campanhas educativas.
A epidemia de aids no Brasil surgiu no começo da década de 80, e os primeiros casos diagnosticados foram no município de São Paulo. Segundo dados do Ministério da Saúde, o país tem hoje 163 mil casos de aids notificados e o governo estima que cerca de 500 mil pessoas estejam infectadas pelo HIV.
Cerca de 76% dos brasileiros com idades entre 16 e 65 anos não usam preservativo, apesar de 69% dos entrevistados afirmarem saber que o uso reduz o risco de contaminação de doenças sexualmente transmissíveis e aids. Portanto, embora a população brasileira conheça métodos de prevenção, não põe em prática o que sabe.
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