água baixa e moradores começam limpeza em Itajubá
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sexta-feira, 07 de janeiro de 2000
Por Ivana Moreira
Itajubá, MG, 07 (AE) - A água baixou em Itajubá, o município mais afetado pelas chuvas no Sul de Minas Gerais. E a enchente deu lugar à lama, ao lixo e ao mau cheiro - as marcas da maior inundação da história da cidade. Oitenta por cento das ruas foram inundadas no domingo, quando a prefeitura decretou estado de calamidade pública.
De acordo com a Defesa Civil Municipal, 21.600 dos 85 mil moradores continuavam desalojados hoje. Faltava comida para muitas família porque as cestas básicas prometidas pelo Estado ainda não haviam chegado, provavelmente presas nas estradas interditas por alagamentos e quedas de pontes. As doações foram centralizadas num único posto. E a distribuição em 13 pontos em várias partes da cidade. Mas a população reclamava das filas.
Limpeza - Com pouca água na torneira, porque a estação de tratamento de água do municipío também foi alagado, os moradores começaram a limpeza das casas e o balanço das perdas. A dona de casa ¶ngela Vilas Boas, de 34 anos, saiu hoje de casa pela primeira vez em cinco dias.
Desde domingo, quando o primeiro andar de sua casa, no bairro Vila Rubens, foi completamente alagado, ela, os dois filhos e o marido estavam ilhados no segundo piso. "Vivemos esses dias como se fosse uma guerra, racionando tudo", contou ela. "Entramos em pânico". ¶ngela chegou a ferver água da chuva para dar aos filhos porque a água do filtro havia acabado.
A dona de casa poderia ter sido levada de barco para um abrigo ou para a casa de um parente. Mas preferiu não abandonar sua residência. O risco de saques durante a noite foi uma preocupação de muitos moradores durante os dias em que a maior parte da cidade estava submersa.
A funcionária pública Rosalice Borges, de 38 anos, começou o dia tirando da casa os móveis destruídos pela enchente. Depois dos móveis foi a vez de arrancar o carpete da sala e dos quartos - estava cheio de lama. A casa de Rosalice fica a cerca de 200 metros do Rio Sapucaí. E lá, apesar da distância, a água subiu pelo menos 1,8 metro.
O comerciante Francisco Mendonça chegou cedo ao galpão do Ceasa. Na central de abastecimentos local, a água chegou a quase dois metros e 95% dos produtos apodreceram. Em frutas, Mendonça perdeu mais de R$ 7 mil. "Minha sorte é que o estoque estava baixo depois das vendas de réveillon."
Na Rádio Itajubá AM, os funcionários também chegaram cedo para limpar a sede e tentar salvar discos e CDs. No meio da trasmissão sobre a enchente, a rádio saiu do ar. Em menos de três horas, a água subiu tanto que atingiu os transmissores. A previsão é de que a rádio só volte a funcionar na segunda-feira. Isso se houver conserto para os equipamentos de transmissão.
Até os homens das Forças Armadas tiveram de começar o dia na limpeza. O 4º Batalhão de Engenharia do Exército, localizado em Itajubá, foi completamente inundado e hoje amanheceu coberto de lama.
"Parece que um furacão passou por Itajubá", disse o eletricitário Luiz Kennedy Fernandes, de 34 anos. "Da parte pobre até a região onde está o metro quadrado mais caro da cidade, todos foram atingidos." Hoje ele era um dos que, com a enxada na mão, tentava tirar o barro de dentro de casa.